quinta-feira, 18 de maio de 2017

A PROPÓSITO DE ESCULTURA DA/NA NATUREZA

O recente desaparecimento de Alberto Carneiro (1937-2017) motivou um conjunto de textos sobre a sua obra. No jornal "Público" era referido como "inventor de mundos, escultor da natureza".

Do site da RTP:
"Foi um grande mestre, um grande professor também, amigo de gerações de jovens artistas, e é uma referência maior e foi um lutador extraordinário contra a doença, na última década, e cumpriu um destino fantástico", disse à Lusa Raquel Henriques da Silva, que trabalhou por diversas vezes com o escultor.
Para a historiadora, são várias as razões pelas quais Alberto Carneiro é uma figura absolutamente fundamental da escultura em Portugal no século XX.
Desde logo, destaca a importância que o escultor deu à sua proveniência, tendo trabalhado em adolescente numa oficina de santeiro, na região norte do país, de onde era oriundo, onde se produziam santos, quer de madeira para o altar, quer de pedra para o exterior.
"Esse trabalhar da madeira durante a sua adolescência foi sempre algo que o Alberto salientou. Não que ele fosse um autodidata, porque, já mais velho do que é costume, entrou na Faculdade de Belas Artes, então Escola de Belas Artes do Porto, onde fez o curso com bons resultados", afirmou.
Raquel Henriques da Silva destacou ainda como muito importante para o percurso do escultor uma bolsa que obteve, no final dos anos 1960, que lhe permitiu ir estudar para Londres.
É então que "ele, que vinha do talhe, de trabalhar a madeira pelo sistema de talhe, de ir roubando madeira à madeira, entra num processo criativo absolutamente sem retorno, absolutamente fundamental que o afasta desse processo tradicional e o lança numa fase muito diferente, em que a escrita desempenhará um papel importantíssimo", acrescentou.
Foi a partir de então que usa o conceito de escultura em campo expandido de Rosalind Krauss, "em que a escultura deixa de ser um monolítico e entra num processo de criação que é simultaneamente objetual, mas também performativo".
São desta altura as obras "O canavial: memória metamorfose de um corpo ausente" (1968) e "Uma floresta para os teus sonhos" (1970), por exemplo.
O escultor escreveu também "um manifesto que é um dos primeiros manifestos que se escreveram não só em Portugal como no mundo, sobre arte ecológica, sobre esta ideia de naturalidade dos materiais, esta presença da floresta e da árvore na sua exposição, que vão ser muito muito importantes, na produção" de Alberto Carneiro, acrescentou.
Em obras conceptuais como "O Canavial", o "esquema da montagem é o fundamental", destacou a ex-diretora do Museu do Chiado e do antigo Instituto Português de Museus.
"Para ele a obra é o esquema muito detalhado da construção da obra. A peça é um esquema, quando se quiser montar de novo monta-se a partir do esquema", explicou.
Raquel Henriques da Silva salientou ainda que, a partir dos anos 1980, Alberto Carneiro regressou ao talhe, "não manual mas com máquinas", tendo "neste último período de vida deixado peças de capacidade poética e de uma qualidade da madeira extraordinária".

Alberto Carneiro foi um dos nomes que mais "abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal", na segunda metade do século XX, destaca a biografia do escultor, publicada no `site` do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.

"Mandala del Parque" (Quito, Equador)


Ao regressar ontem, ao final da tarde, à Câmara Municipal deparei com estas estruturas numa unidade industrial abandonada. Foi então que me lembrei de Alberto Carneiro.

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