sábado, 2 de janeiro de 2016

DE 1981 A 2016

1981-2016

No dia em que este jornal estiver nas bancas já se terá iniciado o novo ano. “A Planície” entrará no 35º ano desta sua segunda vida. No dia do relançamento, que bem recordo, andava eu no 12º ano e, vedadas as possibilidades de fazer jornalismo ou cinema, não tinha ideia nenhuma, mas nenhuma mesmo, do que quereria fazer profissionalmente. A Vida se encarregou de me orientar... Apaixonado sem ser correspondido (estas coisas acontecem a todos, menos aos que nunca perdem), pertencia então à conhecida “Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta”. Uma condição que mantive durante vários anos, ganhando na Faculdade de Letras a injusta fama de “distante”, “monge”, “solitário” e mais uns quantos epítetos que algumas colegas (sim, elas são terríveis...) se entretinham a lançar-me.

Se agora recordo estes dois ou três detalhes de há muitos anos é porque a profissão de historiador me ensinou uma coisa fundamental: melhor se perspetiva o futuro se tivermos um detalhado conhecimento do passado. Foi essa convicção, moldada pela prática, que norteou muitas das minhas opções quando era vereador. É essa experiência acumulada que uso nas metas que traço, em conjunto com os colegas da vereação, procurando sempre ultrapassar problemas de fundo. As questões estruturais prevalecem sobre as conjunturais. Daí a necessidade permanente de lançarmos novos projetos para questões que estão por resolver. Se deixarmos que o quotidiano tome conta de nós, andaremos atrás do quotidiano e o essencial ficará por fazer. Este método, posto em prática de modo assertivo desde há muitos anos, nem sempre é “simpático”. Muito menos consensual. Guardo um arquivo de comentários produzidos sobre as intervenções promovidas pela autarquia, em especial a partir de 2005. Estaria hoje profunda e amargamente arrependido se tivesse/tivéssemos, em tempos, cedido à lógica do “estamos a fazer grandes obras e devíamos era fazer pequenas obras” (quantas centenas de vezes ouvi isto?). Uma falácia absoluta. Não há grandes obras e pequenas obras, mas intervenções que são necessárias e outras que o não são. Sejam elas pequenas, médias ou grandes... Em 2016, não teremos, à partida, grandes obras (leia-se empreitadas de 2 ou 3 milhões de euros). Os cortes financeiros limitam, hoje, a nossa capacidade. Mas haverá outras iniciativas indispensáveis.

Numa altura de grandes dificuldades, e vivendo nós num país pobre com mentalidade de rico, não será 2016 um ano fácil. Não será isso motivo de desânimo. Muito menos de desistência. Os problemas existem? Decerto, e não são poucos. Digamos então como George Mallory, a quem perguntaram porque queria escalar o Evereste, “because it’s there”, porque está lá. As dificuldades existem para serem superadas. Encaro, por isso, o ano que agora começa com a tranquilidade de sempre, à qual não é alheia a certeza da transitoriedade das coisas.

É nessa certeza de atividade intensa que arranca 2016. Para amenizar, terminarei um livro (escrito com mais dois colegas) e tentarei financiar outro, há muito concluído. A ida aos trópicos – a uma cidade que me “persegue” sem cessar... – ajudará a terminar o argumento de “Lethe”, uma ficção cinematográfica que ocupa os poucos minutos livres. Destes devaneios pessoais irei dando conta aos pacientes leitores destas crónicas.


Longa vida para “A Planície”. Um Bom Ano para todos os seus leitores.



Fotografia de Brassaï (pseudónimo de Gyula Halász: 1899–1984)

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