quarta-feira, 21 de outubro de 2015

RITUAL DE CORTE BIZANTINA

Eram longos, tortuosos e demorados os caminhos que levavam ao imperador. Podia-se recebido ou não. O ritual de chegada era complexo e moroso. Temos, de meados do século X, o precisos relato de Liuteprando de Cremona, que nos dá conta de como foi recebido na sala do trono do imperador bizantino, Constantino Porfirogeneta:

À frente do trono do imperador estava uma árvore em ferro dourado, em cujos ramos estavam pássaros de vários tipos, também feitos em ferro dourado, que cantavam de diferentes maneiras. O trono em si era tão habilmente construído que ora parecia baixo ora se elevava a grande altura. Era guardado dos dois lados por enormes leões de ferro ou madeira dourada que batiam com as caudas no chão e rugiam alto, com as bocas abertas e as línguas que se moviam.

Nesta sala, seguido por dois eunucos, fui levado à presença do imperador. À minha entrada, os leões rugiram e os pássaros cantaram, mas isso não me encheu de terror nem de admiração, porque já tinha sido avisado por outras pessoas que já tinham passado por essa experiência. Mas, depois, de me ter prostrado pela terceira vez, quando levantei a cabeça, vi o imperador, que antes estava sentado um pouco acima de mim, quase junto ao tecto da sala, vestido com outras roupas. Não sei como isto era feito.


Os sofisticados mecanismos que Liuteprando relata perderam-se com o tempo, mas é interessante, em especial, a menção ao trono que se eleva aos céus. Este endeusamento do poder está bem presente até os nossos dias, com particular expressão nas áreas geográficas tocadas pelo império bizantino.

O ritual de prostração a que o embaixador foi obrigado chama-se proskynesis. Mergulha as suas raízes no mundo persa e chegou, também ele, até aos nossos dias (na ordenação de sacerdotes, por exemplo).

Os rituais de corte bizantina estão presentes a outro nível, em Portugal. São decerto, as influências do Império Romano do Oriente que justificam este lento bailado que dá pelo nome de "constituição do governo". Já lá vão 17 dias e nada. Audições, reuniões, validações. Um complexo emaranhado de leis e princípios legais, na melhor tradição bizantina. Disse, em tempos, Peter Brown, "devemos mais a Bizâncio que a Roma". A situação política portuguesa dá-lhe razão.


1 comentário:

Portugalredecouvertes disse...


Também temos a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto que relata as culturas dos povos e experiências vividas no Oriente, e as extravagâncias que por lá havia
e não lhe damos o devido valor!