quinta-feira, 23 de abril de 2015

UMA TABERNA EM AZAMOR

Seria incapaz de voltar a encontrar o sítio. Não só porque o episódio se passou em novembro de 1991, como porque toda aquela área da cidade deve ter sofrido profundas alterações.

Foi em Azamor (mantenha-se a grafia antiga, que é bonita), no trajeto para Mazagão. Parámos para ver as muralhas e vadiar um pouco por ali. A viagem, na Dyane da Mia, foi lenta e divertida. Era uma manhã de outono, de calor pesado. A dada altura, numa zona da cidade de ar lumpen vimos, ao longe, um bar, construção isolada numa área meio abandonada. Como a sede apertava entrámos, chegámos perto do balcão e pedimos um chá. Não havia chá. Então um sumo. Não havia sumo. Então água. Nada de água. Meio atordoado, perguntei que poderia beber. "Bière, il n'y a que de la bière". Pensei que fosse brincadeira. Só então olhei em volta. A penumbra escura do bar revelava agora vultos sentados em mesa. E posters nas paredes, de mulheres de seios generosos (aqueles que fazem parte da iconografia habitual das oficinas). Bebia-se cerveja, num ambiente pesado e num silêncio cerrado. Sempre gostei de ambientes com um toque de decadência, mas aquele passava das marcas. Saímos e aguentámos a sede até ao café seguinte.


Azamor no Civitates Orbis Terrarum, de 1572, de George Braunio (1541-1622).

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