terça-feira, 31 de dezembro de 2013

EXPETATIVA

Fotografia - Cindy Sherman

2013 está quase. Aguardemos 2014. Mais que isso, construamos 2014.

PENÉLOPE, A ARQUEOLOGIA E TUDO

Penélope

Desfaço durante a noite o meu caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Quase no final do ano recuperou-se, nas reservas de arqueologia, uma peça desconhecida. Uma placa, de inequívoco uso litúrgico. No castelo de Moura houve, há 1500 anos, uma igreja. Talvez fosse essa a Ecclesia Santa Maria Lacaltensis. Assim quase se acaba o ano. Fazendo e desfazendo. Entre o passado, a arqueologia, sonhos, desejos e projetos. Ao jeito de Penélope.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

NA VIGA BAMBA

Esta fotografia de Lewis Hine (1874-1940) é conhecidíssima. Desafia todas as normas de segurança, mas no início dos anos 30 do século passado essa não era uma das preocupações de topo.

Em todo o caso, duvido que lhe aplicasse a ideia de um ofício que fosse intensidade e calma, como escreveu António Ramos Rosa (1924-2013).


Um Ofício que Fosse de Intensidade e Calma

Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse   fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
Que a palavra fosse sempre   a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios 

FM 2 - PRIMEIRA DESPEDIDA DO ANO

FM 2 não é nenhuma estação de rádio. É uma das minhas mais antigas e sólidas paixões: uma NIKON FM 2, igualzinha (na lente e tudo) a esta. Comprei-a em 1983, por um valor exorbitante, algo como 150 euros atuais. Gosto tanto da máquina, que já falei dela umas três vezes aqui no blogue.

Vou entregá-la, no início do 2014, a uma jovem amiga, cheia de genica (e com mãos de ferro…) e que diz ter interesse pela fotografia. Acho que vai correr bem...

domingo, 29 de dezembro de 2013

MOURA - ORÇAMENTO E GOP 2014

Orçamentar equivale, muitas vezes, a restringir ou a cortar.

2014 será mais um ano de grandes dificuldades para todos. As autarquias não são exceção. O Orçamento e as Grandes Opções do Plano da Câmara Municipal de Moura foram aprovadas, na passada sexta-feira, com 12 votos a favor (CDU), 12 abstenções (PS) e 2 votos contra (PSD). Os votos contra foram justificadas com meia-dúzia de incongruências, entre as quais a já estafada "falta de incentivo ao investimento". Há coisas que se dizem assim, sem desplante nem vergonha... Houve, ainda, uma crítica cerrada, do PS, ao outsourcing. No suposto outsourcing incluem-se os pagamentos à Águas do Alentejo, à RESIALENTEJO e à EDP. Não percebi, mas admito que a insuficiência possa ser minha...

Houve ainda outros fait-divers, como o da votação na participação variável no IRS, que teve contornos de tragicomédia. Voltarei a este e outros tópicos daqui a umas semanas. O ano promete.

O CAPOTE

São os dias de frio e as recordações de juventude que me levam a este filme. O capote, rodado por Alberto Lattuada (1914-2005) em 1952, passou na RTP há uns 35 anos. Não me recordo de grandes detalhes do filme, a não ser a angústia que senti quando o capote é roubado ao pequeno funcionário que tanto se sacrificara por ele. E recordo, naturalmente, a última cena, quando o fantasma do homem assombra a cidade.

O ator é o extraordinário Renato Rascel (1912-1991). Que foi também um grande compositor. É dele a música de Arrivederci Roma...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

FESTA DE ENCERRAMENTO

Nunca dei muito pelo futuro do sítio, quando me disseram que a gerência seria assegurada pelo Lino Pinto (em primeiro plano, na fotografia), amigo e antigo colaborador das escavações arqueológicas no castelo de Moura (época 1989/90). O estilo histriónico e pouco ajuizado do gerente não auguravam um grande futuro à casa.

No primeiro dia, e para demonstrar as suas capacidades, exigiu que lhe mostrasse o BI, quando lhe pedi uma imperial. A justificação, "não posso servir menores e todo o cuidado é pouco", mostrou o futuro.

Afinal, a aventura - que agora segue noutro local - durou cinco anos. Ontem, os habitués juntaram-se numa ruidosa e divertida celebração de encerramento.

FORCADOS AMADORES DA PÓVOA DE S. MIGUEL - 10 ANOS

O 10º aniversário foi em setembro. A corrida de touros onde tal foi assinalado teve lugar no dia 28 de setembro. Ou seja, na véspera das eleições autárquicas. Ou seja, qualquer homenagem pública naquela data iria parecer outra coisa. Mandaram a prudência e a decência que se adiasse o evento. Foi no passado sábado que a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal homenagearam o grupo. Uma cerimónia simples, mas a que quisémos dar toda a importância e significado. Venham mais 10 anos.

E AGORA, A PRESIDÊNCIA DA ASSEMBLEIA DISTRITAL DE BEJA...

Uma pessoa andar folgada e com pouquíssimo para fazer dá nisto… Fui eleito presidente da Assembleia Distrital de Beja, órgão que superintende o Museu Regional. O museu vive, há anos, num limbo administrativo. Uma situação lixada, à qual fico, agora, ainda mais ligado.

Os próximos tempos serão de combate. E da procura de soluções, que terão de ser marcadamente criativas.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

FLAGRANTES DA VIDA REAL - V

A senhora estava habituada às minhas pequenas manias. Uma delas, algo inofensiva, é a de não apreciar por aí além peixes de aviário. Ou de rio. Também os como, mas nunca são a primeira escolha.

Naquele dia, pôs-me o prato na frente e anunciou: "é peixe do mar!". Duvidei "tem a certeza?". Respondeu, quase abespinhada, "sim, senhor! Perca do Nilo!". Não estava mau, o peixinho.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

1400 ESCRAVOS

1400 escravos. Foi esse o espantoso número, anunciado há semanas, referente ao número de escravos hoje existentes em Portugal. Hoje, no ano de 2013, em pleno século XXI. 1761 e 1869 são datas históricas. Ou serão apenas datas?

O número anunciado - 1400 escravos em Portugal - no início do século XXI - mereceu menos atenção que qualquer jogo de futebol de terceira categoria. Um sinal dos tempos.


Um mercado árabe de escravos, segundo um orientalista americano

OLÉ PÓVOA OLÉ

Uma quadra com toques diferentes pelos lados de Moura. Nunca acontece nada naquelas terras? É o que alguns dizem, mas estão seriamente equivocados. As pessoas organizam-se, mobilizam-se e inventam pretextos para dias diferentes. Nos dias 21 e 22 houve mais de 15 eventos no concelho de Moura. O mais original talvez tenha sido o do presépio montado no interior da Casa do Povo da Póvoa de S. Miguel. Um cenário de grandes dimensões, a que o salero do grupo de sevilhanas A mi manera deu um tom diferente. No meio de tantas raparigas, quem melhor bailou foi o jovem Ramalho. Assim me pareceu, pelo menos.

Aquela tarde na Póvoa levou-me a tempos já distantes, de natais em Paymogo e em Madrid. Da Calle Calvo Sotelo (nº 22) à Avenida Menéndez Pelayo (nº 63 - 4ºF) vai um saltinho de memória.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CÂMARA ABERTA


De 17 a 20 houve Câmara Aberta. Uma primeira edição, dedicada à defesa da integridade do território. Houve reuniões com a Estradas de Portugal e com a EDIA. Houve visitas a obras na Amareleja. E mais encontros em Santo Aleixo. E uma Assembleia Municipal em Santo Amador. E ainda a reivindicação quanto à repartição de Finanças.

O contacto direto não é só em tempo de campanha. A próxima Câmara Aberta será em fevereiro ou março.

domingo, 22 de dezembro de 2013

SEBASTIÃO MENDES MACIAS - CAMPEÃO NACIONAL DE PENTATLO MODERNO

OK, admito que sim. O post é escandalosamente parcial. Acontece que o Sebastião é meu primo. E sagrou-se campeão nacional pelo Benfica. Um dois-em-um. Tenho seguido o percurso dele e sei bem da sua persistência e esforço pessoal para conseguir este nível de resultados. Um percurso notável e prometedor.

Força aí, rapaz!

O QUE É QUE SE PASSA COM O TEU BLOGUE?

"O que é que se passa com o teu blogue?", perguntam alguns amigos. Na realidade não se passa nada. Nem mais. Isso mesmo. O que se passou, durante a semana, foi uma correria de compromissos, festas de natal, uma reunião de câmara, uma sessão da assembleia municipal, atividades em ritmo intenso. O meu pequeno mundo não vai regressar à normalidade (seja lá isso o que for) tão depressa. Mas o blogue retoma hoje a sua limitada normalidade.

domingo, 15 de dezembro de 2013

EL AURENS (1932-2013)

A morte de Peter O'Toole trouxe, de novo, à luz do dia o grande Lawrence da Arábia, a que um canal televisivo lusitano chamou, hoje, Lourenço da Arábia.  Neste dia de homenagem, posso dizer que ter visto o filme, no verão de 1975, contribuiu para tomadas de decisão seguintes: a História, o período islâmico, o Mediterrâneo, a paixão pelo Norte de África. Aquela tarde, no Cinema Império, foi de verdadeira revelação. E moldou-me, impercetivelmente, o futuro.

Uma curiosidade: na parte inicial da cena do bar reconhece-se uma conhecida praça de uma não menos conhecida cidade andaluza.

sábado, 14 de dezembro de 2013

MÉRITO ESCOLAR

A Câmara Municipal de Moura, a EB 2,3 de Moura, a EBI de Amareleja, a Escola Secundária de Moura e a Escola Profissional de Moura irão atribuir, a partir de 2014, 19 prémios destinados ao melhor aluno de cada ano. Critério? A média das classificações.

A cada prémio corresponderá um diploma, um troféu e uma compensação simbólica de 250 euros.

É parceiro da autarquia neste projeto o Crédito Agrícola.

O SANTO GRAAL, O DESIGNER, O HISTORIADOR E O VEREADOR

Era uma vez um designer, um vereador e um historiador. Era uma vez um projeto de um pequeno museu de armaria.

Tinha sido contratado um designer de equipamento para conceber aquele espaço. A Câmara Municipal aceitara, sem especial entusiasmo, a proposta do jovem historiador. Alguns meses mais tarde, o designer, algo excêntrico, apareceu na Câmara para apresentar a sua proposta. Fê-lo com inquestionável entusiasmo. Conta quem ouviu que o moço pegou na maqueta de uma das vitrines e explicou ao vereador, pessoa respeitável mas sem percurso académico: "esta vitrine é um cálice! é o cálice do Santo Graal! é a fonte da vida!". E, virando-se para o seu interlocutor, questionou: "o que é nós vamos colocar dentro deste símbolo da vida? armas! e as armas são o quê?" Pausa teatral com toda a gente suspensa, para depois rematar "as armas são o símbolo da morte". Virou-se para o vereador e concluiu "está a ver a ironia? vamos colocar a morte dentro do Santo Graal". O vereador chamou o jovem historiador para lhe perguntar, em voz baixa, "ele tem algum problema na cabeça?". O moço viu a vida a andar para trás e pensou que era o fim da sua carreira.

A carreira, errática, do jovem historiador não ficou por ali. O designer tornou-se uma celebridade no meio. O vereador reformou-se anos depois. O museu levou mais de de duas décadas a concretizar.

História real de um País irreal, num sábado dado ao ócio. E ao retomar do blogue...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O NACIONAL-RAPOSISMO

O estilo do moço tem uma certa graça, na sua forma descomprometida e direta.

O pior é que não consegue resistir às tiradas mais básicas e mais racistas. Dizer que são tortuosas é o mínimo… Escreveu, hoje, que "A beatificação de Madiba tem ainda outro probelam: esconde a estupidez provinciana de alguns dos sucessores do grande Madiba, uma estupidez particularmente cristalina na questão da sida."

Tentar diminuir a grandeza de Mandela através da menoridade de alguns dos seus seguidores é de uma desonestidade sem vergonha nem pudor. A direita reacionária vive disto.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

4'33'' - AMARELEJA, ROTA DAS TABERNAS, JOHN CAGE E GREEN CARD

Durante a Rota das Tabernas, realizada anteontem na Amareleja, disse ao Joaquim Simões, músico e colega na vereação, e enquanto observava um acordeonista: "ali está uma coisa que nunca conseguirei fazer". Respondeu-me "eu ponho-te a tocar piano", acrescentando, maldosamente, "os 4'33"", do John Cage…". Uma tirada humorística bem ao gosto local.

O filme que escolhi, Green card, de Peter Weir, não é grande coisa. Mas esta cena é um verdadeiro achado. A apaixonada declaração de Gérard Depardieu vale mais que o resto.

domingo, 8 de dezembro de 2013

UM LUSTRO



Cinco anos. Um lustro, coisa que agora já ninguém aprende. Um percurso que sempre teimei que fosse pessoal. Atrevo-me a repetir, no final, um texto escrito em 2005 e que completava uma entrevista dada ao "Alentejo Popular". Está ligeiramente desatualizado...

Visitas :
84.400 - 1º ano
111.330 - 2º ano
105.300 - 3º ano
121.598 - 4º ano
91.548 - 5º ano
total: 514.176 (média diária - 282)

Posts
584 - 1º ano
558 - 2º ano
566 - 3º ano
598 - 4º ano
448 - 5º ano
total: 2757

Seguidores:

46 - 1º ano
42 - 2º ano
34 - 3º ano
18 - 4º ano
4 - 5º ano
total: 144

140 países (mais 13 territórios) de cinco continentes:
45 - Europa
37 - Ásia
34 - África
21 - América
3 - Oceânia

B.I.
“Devias ter ido para Ciências”, horrorizou-se a família quando a escolha foi História. Ao menos podia ter sido Português-Francês, que servia para dar aulas. Há uma legião de alunos que nunca tive e que me agradecerão esse facto, mesmo sem o saberem. E História foi uma terceira escolha, depois do veto familiar ao Cinema e ao Jornalismo. “Devias ter ido para Direito”, já me via de beca e rodeado de pilhas de livros chatos como a morte. “Devias ter ido para a carreira da magistratura, que é bem bonita”, insistia o pai e eu nunca percebi porque é que é bonito andar-se vestido de barbeiro com uma bata preta. Pior, os magistrados têm sempre uma vida social um pouco mais que recatada, pelo menos era assim, e sempre me pareceu absurda aquela vida de convento sem convento. “Devias ter ido para economia, olha o teu amigo Paulo, o ordenadão que ele tem”. Aos 18 anos escolhe-se um curso por amor, nem que seja o terceiro amor, depois do veto ao Cinema e ao Jornalismo. Depois logo se vê. Ou seja, verei sempre os pais a abanarem a cabeça em desalento profundo. “Você devia ir para crítico de arte”, aconselhou-me, a sério, o prof de Arte Contemporânea na Faculdade. Esta nunca percebi, mas se calhar fiz mal em não ter seguido o conselho. Textos incompreensíveis qualquer pessoa é capaz de escrever. “Devias ir viajar para outros sítios…”, talvez devesse mas não me apetece e depois fico assim sem ser capaz de explicar porque gosto tanto de me sentar ao fim da tarde no café do Petit Zoco de Tânger ou de estar em Argel. “Devias dedicar-te só ao doutoramento”, sim, sim, fora a Assembleia e mais as exposições e o Museu de Mértola. “Devias ter mais cuidado contigo” e eu digo que sim, mando vir mais um kir e depois outro e fumo um par de cigarros antes de sair para a confusão de Montparnasse, que é o sítio onde mais gosto de beber kir e fumar cigarros. “Devias cortar a frase anterior, que parece pedante”. Não corto, quero lá saber.
Aqui estamos, então. 42 anos, um casamento, dois filhos. Um doutoramento em História, alguns livros publicados. Seria melhor se pudesse dizer alguns livros excepcionais publicados, mas não posso. Um iMac em cima do computador, onde estas letras se alinham, muitos livros à volta. Uma Leica M6, uma Leica R7. Duas exposições, Portugal Islâmico (1998) e Marrocos-Portugal (1999) que valeram amizades para a vida. O Museu de Mértola, dez anos à volta do núcleo islâmico (1991-2001). A miragem da solidão e o medo da solidão como a de Meursault em “O estrangeiro” ou a de Isak Borg em “Morangos silvestres”. Os amigos, alguns amigos. Uma casa em Mértola, um refúgio na Salúquia.
“Devias pensar em sair de Mértola”, alguém me segreda ao lado. E eu sempre com aquela mania de nunca fazer o que me dizem que devo fazer.

VINHO DANÇADO

Beba-se a feira até à última gota. Como faz o coreógrafo e bailarino Ismael Ivo em The night of Dionysos. Assim, em tons de vermelho, como o tinto da Amareleja. E acompanhe-se a feira com o espírito das palavras do, felizmente, pouco virtuoso Baudelaire.


L'Ame du Vin

Un soir, l'âme du vin chantait dans les bouteilles:
«Homme, vers toi je pousse, ô cher déshérité,
Sous ma prison de verre et mes cires vermeilles,
Un chant plein de lumière et de fraternité!

Je sais combien il faut, sur la colline en flamme,
De peine, de sueur et de soleil cuisant
Pour engendrer ma vie et pour me donner l'âme;
Mais je ne serai point ingrat ni malfaisant,

Car j'éprouve une joie immense quand je tombe
Dans le gosier d'un homme usé par ses travaux,
Et sa chaude poitrine est une douce tombe
Où je me plais bien mieux que dans mes froids caveaux.

Entends-tu retentir les refrains des dimanches
Et l'espoir qui gazouille en mon sein palpitant?
Les coudes sur la table et retroussant tes manches,
Tu me glorifieras et tu seras content;

J'allumerai les yeux de ta femme ravie;
À ton fils je rendrai sa force et ses couleurs
Et serai pour ce frêle athlète de la vie
L'huile qui raffermit les muscles des lutteurs.

En toi je tomberai, végétale ambroisie,
Grain précieux jeté par l'éternel Semeur,
Pour que de notre amour naisse la poésie
Qui jaillira vers Dieu comme une rare fleur!»

Charles Baudelaire

sábado, 7 de dezembro de 2013

VINHO FOTOGRAFADO

Entre a Rota das Tabernas, no final da manhã de hoje, e o programa desta noite, o destino é a Amareleja. A Feira da Vinha e do Vinho vive o seu 2º dia.

Já quase não há sítios destes, mas a memória do que eles foram é(-nos) decisiva.

A poesia é o vinho do demónio, dizia Santo Agostinho. Ora ainda bem… Aqui vai um poema, de Maria Teresa Horta, que dá razão ao pensador argelino.

Eu não quero a ternura
quero o fogo
a chama da loucura desatada
quero a febre dos sentidos
e o desejo
o tumulto da paixão arrebatada
Eu não quero só o olhar
quero o corpo
abismo de navalha que nos mata
quero o cume da avidez
e do delírio
sequiosa faminta apaixonada
Eu não quero o deleite
do amor
quero tudo o que é voraz

Eu quero a lava

Casa de Pasto 2 Irmãos, em Grândola (fotografia de José Manuel Rodrigues)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

VINHO PINTADO

O vinho do Dia de S. Martinho, pintado c. 1565-1568 por Peter Brueghel, o Velho (c. 1525-1569). Não é assim muito prático irmos hoje ao Museu do Prado, mas temos aqui ao lado a Feira da Vinha e do Vinho, em Amareleja.

A abertura é logo mais, às 16.30, seguindo-se uma visita aos stands. Foi depois de uma  memorável feira do vinho, em 2008, que este blogue nasceu.


Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente
Aquele que tu bebes, docemente,
Com teu mais velho e silencioso amigo.
(Mário Quintana)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

NELSON MANDELA (1918-2013)


A escultura de Marco Cianfanelli (n. 1970) é de uma rara felicidade e engenho. Recordo-a hoje, dia em que Nelson Mandela, um homem acima de todos os outros, partiu.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

TÂNGER, DEMASIADOS ANOS DEPOIS

Os amigos próximos, e que me conhecem há muito tempo, dirão "oh, não! lá está ele, outra vez, com aquela fixação com a cidade de Tânger…". Esta crónica, publicada no dia 1 de dezembro em "A Planície" é dedicada, portanto, aos que não sabem da minha paixão por Tânger.


Foi num memorável 1999. No ano anterior fôramos designados (o Cláudio Torres e eu) comissários científicos de uma exposição que deveria ter lugar por ocasião da Cimeira Luso-Marroquina. A iniciativa partira do então primeiro-ministro António Guterres, deixando-me mais que surpreso. Com argumentos que convenceram facilmente Francisco Motta Veiga, assessor cultural do PM, coseguimos empurrar a exposição para Tânger. Constituímos, o Francisco, o Cláudio, a Conceição Amaral e eu, um grupo de trabalho que se encarregou de trabalhar o tema. As razões pessoais eram inconfessáveis e a opção Tânger causou alguma estranheza. A cidade tinha a reputação de “complicada” e a memória da revolta do pão, ocorrida em 1984, ainda não se apagara. Acabou por ser o sítio escolhido, marcando-se o início do mês de setembro para o evento.

Estivera em Tânger no outono de 1981. Não regressara à cidade. Mas guardava daqueles dias a memória, talvez demasiado doce, dos finais de tarde, espreitados da varanda do Hotel Velázquez. Ao longe, os ciprestes e a kasbah faziam de sombras chinesas contra o Estreito. Mas longe ainda, e por entre a bruma, desenhava-se o Eldorado europeu. Vinte anos depois tudo estava na mesma. O sortilégio da cidade estava, e está, nessa imobilidade, numa quietude secular, que contrasta com o frémito andaluz que enche as ruas no fim da tarde. Há coisas que não mudarão nunca: a cor das águas às portas do Mediterrâneo, o vento que sopra sem cessar e o ar decadente que da arquitetura colonial. As que se transformam, fazem-no num ritmo lento e cerimonioso.

A fase final da exposição foi feita ao ritmo da leitura de “Jour de silence à Tanger”, de Tahar Ben Jelloun. O livro começa assim:

“Esta é a história de um homem perseguido pelo vento, esquecido pelo tempo e desprezado pela morte.

O vento vem de leste, na cidade onde o Atlântico e o Mediterrâneo se encontram, uma cidade feita de colinas sucessivas, enigma doce e inatingível.

O tempo começa com o século ou quase. Forma um triângulo no espaço familiar desse homem que, cedo – tinha 12 ou 13 anos -, deixou Fez para ir trabalhar no Rif, em Nador e Melilla, para voltar a Fez durante a guerra e emigrar nos anos 50, com a sua pequena família, para Tânger, cidade do estreito, onde reinam o vento, a preguiça e a ingratidão”.

O livro foi lido entre o Petit Zoco, os cafés do Boulevard Pasteur e o museu onde a exposição “Marrocos-Portugal: portas do Mediterrâneo” estava a ser montada. As palavras do autor foram, em mais de uma ocasião, inspiradoras. Perdi-me, à custa delas e por mais de uma vez, nas vielas da cidade antiga, por entre as sombras e o silêncio. A exposição foi um assinalável sucesso e marcou um ponto de viragem na minha vida. Só voltei a Tânger no passado mês de março, mas apenas por um dia. Sem tempo para retomar o caminho do bairro de Marshan, mesmo sobre o mar. Sem tempo para passar pelo caos da cidade. Penso sempre que poderia para lá partir amanhã e não mais voltar. Março já foi há demasiado tempo. Tentarei regressar, um destes dias, à cidade do vento, da preguiça e do caos. Mas não da ingratidão.

NOVA DIRETORA REGIONAL DE CULTURA EM AQUÉM-TEJO

A nossa região tem uma nova diretora regional de cultura. É a Dra. Ana Paula Amendoeira, uma velha amiga do autor do blogue. Fomos colegas de faculdade nos já distantes anos de 1981/1985. A seriedade, inteligência, competência, disponibilidade e simpatia de então mantêm-se, amadurecidos com o passar do tempo.

A única, mesmo única, certeza que tenho é de que o lugar está muitíssimo bem entregue. Agora digam lá que os comunistas estão sempre contra as decisões do Governo…

Amiga Paula: que o céu e, sobretudo, o património não te caiam em cima da cabeça. Esse tijolo não augura nada de bom.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

VEM AÍ A FEIRA, VEM AÍ A FEIRA

De 6 a 8 de dezembro vamos ter a 12ª edição da Feira da Vinha e do Vinho. É uma organização conjunta da Câmara Municipal de Moura e da Junta de Freguesia de Amareleja.

Animação musical, rota das tabernas, espaço de colóquio e provas de vinhos, durante três dias, no espaço da Escola das Cancelinhas.

Programa completo em http://www.feirasdeamareleja.pt

domingo, 1 de dezembro de 2013

ESCOLA NOVA EM SANTO ALEIXO DA RESTAURAÇÃO

Casa cheia e alma cheia, esta tarde, em Santo Aleixo da Restauração.

Dia de reabertura da Escola Básica e do Jardim-de-Infância, depois de obras de reabilitação. O Governo tem um programa de encerramento de escolas? A Câmara Municipal de Moura tem um programa de recuperação das escolas.

O Ministério da Educação não considerou esta obra prioritária? Para a Câmara Municipal de Moura está no topo das prioridades. Uma opção bem entendida pelos alunos que, de imediato, tomaram conta dos espaços, pelos professores e pelo pessoal não docente. E pelas muitas pessoas que, esta tarde, se nos juntaram.

Foi simples e bonita, a festa conjunta organizada pela Junta de Freguesia de Santo Aleixo da Restauração e pela Câmara Municipal.