quarta-feira, 29 de maio de 2013

VERMELHO

Dois Rumos


Mentir, eis o problema: 
minto de vez em quando 
ou sempre, por sistema? 

Se mentir todo dia, 
erguerei um castelo 
em alta serrania 

contra toda escalada, 
e mais ninguém no mundo 
me atira seta ervada? 

Livre estarei, e dentro 
de mim outra verdade 
rebrilhará no centro? 

Ou mentirei apenas 
no varejo da vida, 
sem alívio de penas, 

sem suporte e armadura 
ante o império dos grandes, 
frágil, frágil criatura? 

Pensarei ainda nisto. 
Por enquanto não sei 
se me exponho ou resisto, 

se componho um casulo 
e nele me agasalho, 
tornando o resto nulo, 

ou adiro à suposta 
verdade contingente 
que, de verdade, mente.



A cor vermelha domina nesta tela de Félix Vallotton (1865-1925). Intitula-se, vá lá saber-se porquê, A mentira. Isso levou-me, em linha reta, a um poema de Drummond de Andrade, que anda à volta do mesmo tema.

Primeiro post de uma série à volta das cores em pintura e daquilo que elas sugerem.

O quadro está no Baltimore Museum of Art: http://www.artbma.org/

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