domingo, 31 de março de 2013

SOB O SIGNO DE HOPPER - IV: WIM WENDERS

Desertos urbanos, o de Edward Hopper e o de Wim Wenders. De Early Sunday Morning a Street Corner Butte, Montana vão 73 anos. Ambos me evocam a solidão física. Tal como Rilke.

Solidão 

A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludidos e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"


sábado, 30 de março de 2013

PÁSCOA EM VIDAGO

VIDAGO é uma palavra que associamos a "água mineral". Ou a "termas". Ou a "spa", mais modernamente. Algo de muito relax e salutar. Não conhecia Vidago e a minha Páscoa, nesse ano de 2006, foi passada em Trás-os-Montes. Tudo correu tranquilamente, até o Lobo da Silva me apresentar a um amigo. Que fez questão de me dar a provar o seu vinho. Mais o seu presunto, que não comeu, por ser Sábado de Aleluia. "Mas vós, comede e bebede, c******!", bradava o senhor, de forma pouco pia. Deverei pagar esses, e outros, pecados. Não bebi água mineral em Vidago, admito. Mas o vinho e o presunto eram excelentes...

sexta-feira, 29 de março de 2013

EIS MARROCOS

Ao sul e leste o Saará, a oeste o Atlântico, a norte o Mediterrâneo, a oriente desertos e a estrada natural do norte de África, a estrada das invasões, das especiarias e do Islão: eis Marrocos.

No mapa parece um cavalo deitado voltado para o Mediterrâneo com a garupa nervosa bem recortada sobre o Atlântico. A cordilheira do Atlas com os seus 4000 metros de altitude liberta-o da estepe e dos desertos do Leste. Depois os seus campos vão descendo de planalto em planalto, abrindo sobre o oceano os seus largos terraços de terras úberes. Atlas, o velho gigante, não sustenta o céu com os seus ombros possantes, mas sustém estes açafates mouriscos que podem abarrotar de cereais, de gados e de frutas. Um outro braço de montanhas corre paralelamente ao Mediterrâneo - é a cordilheira do Rif, muralha onde vêm quebrar-se as ondas invasoras.


O excerto que acima reproduzi é o início de Raízes da expansão portuguesa, de António Borges Coelho. A primeira edição, de 1964, foi apreendida pela PIDE. Tenho um exemplar da 3ª edição, que comprei em dezembro de 1979. O livro era de leitura obrigatória na disciplina de História, no 11º ano. Fiquei preso ao estilo de escrita e à elegância poética do autor. Ao seu jeito um pouco sardónico, também. Foi texto que me acompanhou por estes dias. A imagem é do Civitates Orbis Terrarum, de Georg Braun (1541-1622). Representa Ceuta. Foi lá que tudo começou.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A CRISE - ONLINE E OFFLINE

A informação tem coisas curiosas. Ao olhar hoje o diário económico de Casablanca Les Échos Quotidien fui atraído pela manchete "Tudo para evitar o Plano de Ajustamento Estrutural!". Com um défice orçamental de 7,6% soaram as campainhas de alarme. Quem aponta o caminho é Abdellatif Jouahri, governador do Banco Central marroquino. Fala-se em rigor, em cortes etc. Nada que não conheçamos.

Curioso mesmo é o jornal ter puxado para a primeira página da versão impressa, cuja tiragem não é especificada, este tema. Ao passo que na versão da net a notícia surge num discretíssimo rodapé. Há verdades que é melhor não circularem muito depressa...

Ver: http://www.lesechos.ma/

EUROPA NOSTRA

Os prémios da União Europeia do Património Cultural distinguiram, este ano, trinta projetos de quatro áreas diferentes.

Da lista fazem parte quatro laureados Portugal. Quero aqui manifestar o meu regozijo pelo reconhecimento internacional que o trabalho de Victor Mestre e de Sofia Aleixo acaba de conhecer. O prémio, no âmbito da Conservação (categoria 1) reporta-se à notabilíssima intervenção levada a cabo no Liceu Passos Manuel, em Lisboa. Cabe também referência à distinção atribuída à Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, no âmbito da categoria 3 (Contributo Excecional).

A que propósito vem a referência? É que Victor Mestre e Sofia Aleixo são autores de três projetos no âmbito da conservação, no concelho de Moura. Um deles está em obra. E Conceição Amaral, diretora do Museu da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, tem, por diversas vezes, prestado serviços à Câmara de Moura, no domínio cultural.

Estamos, portanto, bem acompanhados. Isto vem, também, dar razão ao método de trabalho que, na Câmara Municipal de Moura, temos vindo a seguir. Faz sentido, mais que nunca, citar uma máxima célebre: Gouverner, c'est choisir (Pierre-Marc-Gaston de Lévis - 1764-1830)

Veja-se a lista completa em http://www.europanostra.org/laureates-2013/

quarta-feira, 27 de março de 2013

ONDAS VERDES NUM MAR DE GENTE


É um mar lento, o que se move de Bab Bou Jeloud até ao Funduq Nejjarine. Encosta abaixo, ao ritmo de ondas que passam sem cessar. Por cima de nós há um mar verde nos zellijs e nos tetos, que mergulha no Alcorão (sura 76 - versículo 21: sobre eles haverá vestimentas verdes, de tafetá e de brocado, estarão enfeitados com braceletes de prata e o seu Senhor lhes saciará a sede com uma bebida pura) e que nos é evocado pela figura mítica de al-Khidr. Ondas verdes no meio do bulício.

Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia

Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz

Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

Manuel Bandeira

MAR VERMELHO


Ó Alentejo dos pobres
Reino da desolação
Não sirvas quem te despreza
É tua a tua nação

Não vás a terras alheias
Lançar sementes de morte
É na terra do teu pão
Que se joga a tua sorte

Terra sangrenta de Serpa
Terra morena de Moura
Vilas de angústia em botão
Dor cerrada em Baleizão

A foice dos teus ceifeiros
Trago no peito gravada
Ó minha terra vermelha
Como bandeira sonhada


As palavras de Urbano Tavares Rodrigues ecoaram na subida do mar vermelho de Aït Ben Haddou. O tom amargo de há décadas não tem hoje razão de ser, daquela forma. Que outras preocupações nos toldam o quotidiano ninguém o duvida. Que o futuro tem sombras é outra verdade. Mais que nunca se tornam necessários o espírito de combate, a entrega e a solidariedade. Bem como a denúncia da venalidade, da incompetência e do oportunismo.

terça-feira, 26 de março de 2013

MAR AZUL

mar azul

mar azul      marco azul
mar azul      marco azul      barco azul
mar azul      marco azul      barco azul      arco azul
mar azul      marco azul      barco azul      arco azul      ar azul


Pode discutir-se o conceito, ou até pensar-se "seria capaz de viver aqui?", mas o Jardim Majorelle tem a faculdade de transmitir um pouco de paz de espírito. O silêncio do fim de tarde ajudou. Aquele exuberante mar azul em que se anda não será exatamente o de Ferreira Gullar, mas para o caso tanto dá.

domingo, 24 de março de 2013

OUTRA VEZ O MAR DE ARZILA


no mar de arzila
namorei
teus olhos

no mar de arzila

uma voz antiga
tangia
a claridade
dobava o musgo
das pedras
adormecendo

no mar de arzila

havia o meu canto
recluso
do teu canto
gaivota gaivota
e nas praças
o tempo
renascera

no mar de arzila

namorei
teus olhos

no mar de arzila
 
O poema de José Manuel Mendes surge, aqui, pela segunda vez. A primeira foi em 14 de março de 2009. Escrevi então É fácil lembrarmo-nos do Mar de Arzila e dos olhos que vimos junto ao Mar de Arzila. E dos olhos que, às vezes, namoramos. O olhar desta mulher - amanhã direi quem é - ilustra bem esse cruzar de olhares. E a atracção pelo desconhecido. Quatro anos depois escreveria o mesmo. Ao passar por Arzila, ao longo da muralha, e até chegar ao marabout de Krikia, pensei que não me importaria de viver naquela cidade durante algum tempo. Ou, até, mais do que isso.

COISAS IMPROVÁVEIS

Coisas improváveis são aquelas que estão sempre a acontecer. Como a história que esteve na origem do filme Amigos improváveis, obra recente de Olivier Nakache e Éric Toledano. O argumento cinematográfico recria a relação verdadeira entre um riquíssimo aristocrata, Philippe Pozzo di Borgo, e o seu auxiliar de origem magrebina, Abdel Yasmin Sellou. A forma como um empregado, sem formação e considerado pelos amigos de Philippe como um homem sem educação e sem nível, altera a vida de alguém marcado pelo infortúnio é, no mínimo, tocante. No filme, o jovem magrebino é "trocado" por um pintas de origem africana, cheio de imaginação e de expedientes. O filme é divertido e comovente. Não ficará como obra-prima? Provavelmente não. Mas é daqueles que preenchem a alma.

Aqui fica a cena da dança, depois de um concerto de música clássica:

RECOMEÇANDO UMA VEZ MAIS


Outra vez. Recomeçar contactos e relançar pontes. A surpresa não podia ser maior. 75 pessoas num final de tarde para assistir a uma apresentação sobre o património islâmico em Portugal. Uma iniciativa que se deveu ao dinamismo do Luís Raposo, à disponibilidade de Vasco Seruya (do MNE) e ao interesse da Profª. Fatiha Benlabbah, diretora do Instituto de Estudos Hispano-Lusófonos. No final entregou-me uma proposta, que deverá ser desenvolvida no âmbito do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. Antes houve encontros e reencontros. Tudo demasiado rápido, como sempre acontece nestas coisas. Vi, apenas de relance, a Profª Cristina Robalo Cordeiro. Tive a enorme surpresa da presença, e de um contacto amabilíssimo, do Dr. Mohamed Benaïssa. Sugeriu-me um futuro acordo entre Arzila e Moura, depois das eleições de outubro. Revi, 14 anos depois de Argel, o Dr. António Pinheiro Marques. Não resisti a dizer-lhe "se o ritmo se mantém, encontramo-nos, em 2027, em Nouakchott...". Reencontrei o Dr. Youssef Khiara. Que, no meio da confusão, ainda teve tempo e pachorra para me colocar em contacto com amigos dos tempos de Mértola e de Lyon. E ainda o Dr. El Mostafa Touri, que proporcionou contactos e abriu mais algumas portas. Finalmente, a conversa luminosa com Hugo Maia. Arabista, fotógrafo, tradutor, investigador e entusiasta dessa coisa chamada VIDA.

Era já noite quando saímos para as ruas de Rabat. Ao passar pelo BALIMA não pude deixar de recordar o primeiro passeio naquela cidade, já lá vão quase 32 anos. A sensação de estar sempre no ponto de começo é, apesar de tudo, um pouco angustiante. Tal como então, o ponto seguinte foi tomar o Marraquexe Express.

quinta-feira, 21 de março de 2013

TALASSOTERAPIA - 10/10

Comemoras o dia
da solidão As palavras
serão esquecidas ou apenas

as temerás mais uma vez e
partirás para um lugar
onde julgas poder sentir o mundo
pulsar na tua pele

afinal imortal Nos olhos
passará o filme aquoso
do que viveste Viverias
de novo esse presente obscuro

tão futuro Já então
por vezes confundias o teu corpo
com o ar ou a água e entregavas
à sua transparência

a paixão
Mas o fogo e a terra são mais
densos Geram víboras
na tarde


O poema de Gastão Cruz tem sobretudo a ver com o momento da passagem. Tal como os navios mercantes holandeses, pintados num outro estreito, que não o de Gibraltar, por Heerman Witmont (1605-1684).

Décimo e derradeiro capítulo da talassoterapia. Pensado para terminar quando começa a primavera. A partir de agora chegam, de verdade, a luz e o mar.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A ILHA QUE NÃO É ILHA


O nome da cidade - Al-Jazīra Al-Khadrā', em árabe الجزيرة الخضراء ou Ilha Verde - deve ter origem numa pequena ilha situada outrora em frente a Algeciras. Mas a verdadeira e extraordinária ilha é o cerro que se ergue à entrada do Mediterrâneo. Gibraltar é a montanha de Tarik? É daqueles nomes que não encaixa. Que gibr tem origem é jebel está mais que provado. Agora que o tal governador tenha dado o nome ao cerro custa mais a acreditar...

O ÚLTIMO EXPRESSO


Pode ser que volte a apanhar o expresso em Mértola, ou em Beja, ou em Lisboa. Mas é pouco provável. Pelo menos, evitarei fazê-lo. Eis a última invenção: as latrinas nas gares rodoviárias passaram a ser pagas. Uma semvergonhice e uma forma de atacar os bolsos dos clientes. Sabendo-se que boa parte dos passageiros tem uma idade avançada e que, a partir de certa altura, a tal glândula exócrina começa a dar chatices isto é, para a Rodoviária, um sucesso garantido. Desta vez, não precisei de usar os 50 cêntimos. Mas daqui a uns anos não deverei poder dizer o mesmo.

Como se tem visto nos últimos tempos, os mais acabados e perfeitos assaltos ocultam-se sob a capa de "medidas de gestão", "melhoramento da eficácia", "racionalização" etc. Este é mais um deles. Um exemplo pequeno, mas significativo.

terça-feira, 19 de março de 2013

O SENHOR SLOW-MOTION

Um calafrio, hoje, nas notícias. Vítor Gaspar GARANTIU que a situação que se vive em Chipre é impossível em Portugal e tal não acontecerá. Do ponto de vista pessoal, a minha preocupação é limitadíssima: não tenho poupanças nem aplicações financeiras. Do ponto de vista da credibilidade política, a afirmação, proclamada naquele tom inconfundível, é terrível. Se Gaspar diz que não acontecerá é porque vai acontecer...

Quando Vítor Gaspar apareceu, não gostei de nenhuma das suas propostas. Mas acreditei na sua lógica e no que dizia que iria acontecer. Mesmo sofrendo na pele o flagelo das medidas, pareceu-me que a lógica das propostas de Gaspar era consequente com a sua filosofia política. Ou seja, as coisas seriam desenvolvidas como ele propunha. Essa era a única parte que eu respeitava: a coerência do pensamento e da prática. Afinal, nem isso... Falhou tudo, todas as previsões. Um zandinga. Sob a capa da seriedade académica.
 
 Vítor Gaspar, quando não tinha olheiras e não fazia previsões.

segunda-feira, 18 de março de 2013

AL QUÊ?

É um dos petiscos mais divertidos da nossa Pátria. Dos mais saborosos, sem dúvida. Mas o que tem piada é que o nome, bem castelhano, tropeça na linha da fronteira. Ainda há pouco o pude constatar. Gambas al ajillo? Qual quê... Eis algumas variantes: gambas à la ilho ou gambas alailho. Ou ainda gambas aílho. Ou, com apóstrofo, gambas al'ailho. Ou mais difícil e sintético, gambas guilho.

Quando disse a uma amiga que gostava de anotar estas coisas das ementas ela resmungou qualquer coisa onde percebi a palavra Rilhafoles. Pareceu-me ser isso.

domingo, 17 de março de 2013

CIDADE VIRTUAL

Uma forma diferente de ver e de entender as cidades. Coisas de ricos, dir-se-á e é um pouco verdade. Estas reconstituições não são baratas e implicam meios, que não são só financeiros. Interessante é complementar a cidade virtual com a verdadeira. Deixo aqui, em ritmo domingueiro, uma reconstituição da Lisboa pré-pombalina e a indicação de um espaço, o Lisboa Story Centre onde se pode tocar - confesso que o "discurso" e os conteúdos não me convenceram, pelo pouco equilíbrio que apresentam - um pouco mais da cidade de Lisboa.

Deite-se um olhar ao filme. Lance-se a vista pelo Lisboa Story Centre. Que não é barato... Mas Lisboa vale sempre a pena. E vale bem mais que uma missa.

sexta-feira, 15 de março de 2013

VOU VISITAR MINHA TIA A MARROCOS...


Não é a minha tia, como na lengalenga, mas para o caso tanto dá. Percurso de dez dias, Marrocos de norte a sul e depois para este e a seguir para oeste, acompanhando um grupo de amigos do Museu Nacional de Arqueologia. Passamos ao lado de Alcácer Ceguer, de Mazagão e de Safim. Paciência... Pelo meio, há uma apresentação sobre a arqueologia islâmica em Portugal, na Universidade de Rabat, promovida pela Embaixada de Portugal e pelo Instituto Camões. Uma oportunidade para rever velhos amigos. Agora a palavra velhos começa mesmo a fazer sentido...

No convite, tiveram a simpática ideia de reproduzir a lápide funerária de um mertolense, Ibn Khalis.

quinta-feira, 14 de março de 2013

707


A SIC teve, no telejornal da hora do almoço, uma peça sobre os números de telefone de atendimento ao público, que somos "estimulados" a usar. A parte mais curiosa tinha a ver com os números começados por 707, pagos pelo utente a bom preço e onde as entidades para as quais ligamos ainda vão buscar umas massas. Que empresas privadas o façam tá mal, que entidades públicas o façam é um ato de gangsterismo.

À cabeça da desvergonha vem a Autoridade Tributária e Aduaneira (nome do caraças para o Fisco). Cujo único número de contacto é o 707.206.707. Ou seja, nós pagamos. E, para tirarmos uma pequena dúvida, tornamos a pagar.

Em tempos havia aqueles números para alguns incautos ligavam para ouvir gemer. Gemiam depois eles quando recebiam as contas telefónicas. Agora não precisam do pornofone para serem esfolados. Basta o Ministério do Prof. Gaspar.

Um 707 de altos voos. Mas não para nós.


 Utente com as malas cheias de dinheiro, antes de ligar para o 707 do Fisco

quarta-feira, 13 de março de 2013

NOMENKLATURA SISTINA

  
Vejamos a idade dos últimos quatro Papas, à data da eleição:
Albino Luciani - 65 anos
Karol Józef Wojtyła - 58 anos
Joseph Aloisius Ratzinger - 77 anos
Jorge Mario Bergoglio - 76 anos
Somam 276 anos

E a idade dos últimos quatro secretários-gerais do PCUS, na data da eleição?
Leonid Ilitch Brejnev - 57 anos
Iúri Vladimírovitch Andropov - 68 anos
Konstantin Ustínovitch Chernenko - 72 anos
Mikhail Serguéievich Gorbachev - 54 anos
Somam 252 anos

São/eram estruturas de poder com paralelos interessantes.
Mas o Vaticano ganha, ainda assim, por uma diferença de 24 anos.

terça-feira, 12 de março de 2013

PAUL THOMAS ANDERSON NA FCSH





Li, em tempos, uma entrevista feita a Woody Allen, na qual o cineasta explicava um dos seus métodos favoritos para arranjar materiais para os argumentos. Limita(va)-se a passear pelas ruas de Nova Iorque, observando as pessoas à sua volta.

A entrevista veio-me à memória, há uns meses, no elevador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Entrámos cinco pessoas, três senhoras, um jovem gorducho, provavelmente aluno, e eu. Quando o elevador parou no primeiro piso, o jovem, muito hirto, bradou, de forma sincopada: PRI-MEIRO PISO. Entreolhámo-nos naquela do ó mau, o que é que se passa aqui? Segundos depois, a cena repetiu-se, num tom de voz ainda mais forte: SE-GUN-DO PISO! Duas das senhoras precipitaram-se para a porta, com ar espavorido. Pensei raio de azar, isto do Departamento de História ser no sexto andar... E, logo de seguida, o que vale é que ele não deve estar armado... O inusitado anúncio teve lugar uma vez mais, antes do jovem abandonar o elevador. Fiquei só com a passageira restante, que suspirou de alívio. Comentei o Tarantino não precisa de se esforçar muito na escrita dos filmes. A senhora riu nervosamente e respondeu pois não.

Não é sítio onde vá muitas vezes, mas fiquei curioso quanto à atitude do jovem  e improvisado ascensorista. Bem vistas as coisas, a cena é mais Paul Thomas Anderson que Quentin Tarantino.

segunda-feira, 11 de março de 2013

'O SURDATO 'NNAMURATO



Por norma, só falo do que sei, ou do que conheço. Mas, na verdade, nunca vi este filme, La sciantosa, rodado para a RAI, em 1970, por Alfredo Giannetti (1924-1995). Não sei, portanto, se o filme é bom. A cena que se mostra tem tiques curiosos da maneira de fotografar italiana, com as panorâmicas e, o que é pior, com aquela irritante mania dos zooms (v. ao minuto 3:40), tão populares nos filmes transalpinos da década de 70.

Porquê, então, La sciantosa (uma adaptação meridional de chanteuse)? Por causa de Anna Magnani. Por causa da bela língua napolitana. Por causa deste tema popular, 'O Surdato 'Nnammurato. Que tem quase 100 anos, mas não parece.

domingo, 10 de março de 2013

TALASSOTERAPIA - 9/10


Lenta, descansa a onda que a maré deixa. 
Pesada cede. Tudo é sossegado. 
Só o que é de homem se ouve. 
Cresce a vinda da lua. 
Nesta hora, Lídia ou Neera ou Cloé 
Qualquer de vós me é estranha, que me inclino 
Para o segredo dito 
Pelo silêncio incerto. 
Tomo nas mãos, como caveira, ou chave, 
De supérfluo sepulcro, o meu destino, 
E ignaro o aborreço 
Sem coração que o sinta.


Uma onda azul, um poema em tons de azul. Ondas portuguesas, por Noronha da Costa e por Ricardo Reis. A tela é de 1988 e intitula-se "Do Subnaturalismo ao Sobrenaturalismo" (Pintura Fria). O poema é de 1927. Só não acho a pintura fria. Um pouco triste, talvez.

sábado, 9 de março de 2013

PCP - ANIVERSÁRIO 92


Jantar do 92º aniversário do PCP.

Foi no refeitório da Escola Secundária de Moura e juntou mais de 100 pessoas. Intervenções dos camaradas José Maria Pós-de-Mina e Francisco Lopes. Mais um bom momento, numa caminhada que ganha firmeza. Outubro está perto e longe. Estamos juntos. E confiantes.

MOURA-PÓVOA-AMARELEJA-MOURA-SANTO AMADOR-MOURA-PÓVOA-SOBRAL-MOURA


Vertigem na margem esquerda. Um périplo incessante, entre uma iniciativa cultural em preparação, questões de ordenamento e os festejos do Dia da Mulher (a imagem é da sessão de ontem à noite, em Santo Amador).

Passagens por várias freguesias numa sexta-feira e num sábado em que a dimensão espaço-tempo se pareceu comprimir.

A ideia é continuar, com entusiasmo e afinco. Mostrando o que queremos fazer, com exemplos concretos e não com palavras e teorias avulsas.

Recentemente, alguém escreveu sobre o nosso trabalho, classificando-o como inculto, desconhecedor, insensível etc. O que nos vale são os pequenos salvadores-da-pátria...

sexta-feira, 8 de março de 2013

MARTINS & BAILÃO


Nota lacónica antes da semana acabar: foi com um sentimento de tristeza que soube da notícia da insolvência da empresa Martins & Bailão. Mais trabalhadores para o desemprego, mais uma casa que fecha.

A construtora está ligada ao meu início de trabalho em Mértola, em 1991. Foi a Martins & Bailão que concluiu o museu de sítio da Basílica Paleocristã. A relação correu muito bem e a obra foi terminada no prazo. Um processo difícil, marcado por  tremendas dificuldades financeiras e por peripécias administrativas. As faturas atrasavam-se e o sr. Martins esperava, paciente. Valeram-nos a ajuda do eng. Ventura Lopes, do eng. Teotónio e um encontro, que foi decisivo, com o Dr. Nunes Liberato, então Secretário de Estado da Administração Local. Uma grande aprendizagem, para mim, e um momento crucial na vida do Campo Arqueológico de Mértola.

O Museu Paleocristão foi inaugurado no dia 14 de novembro de 1993.

quinta-feira, 7 de março de 2013

FINAL CUT



Há percursos que se começam, que se interrompem, que depois se retomam. Muitas vezes, quando se pensa que já está tudo arrumado. Ou quando, por qualquer razão, se desistiu. É essa a razão de ser desta pequena crónica. Trata-se de um história verdadeira.


Aos 17 anos rodei um pequeno documentário sobre um pintor e poeta. Era o “trabalho de curso” de um clube de cinema de amadores, que então frequentava. Espantosamente, o pintor levou-me a sério e sujeitou-se a filmagens em som direto, a encenações, nas quais pintava quadros, deixando-me entrar em sua casa e cumprindo (!) as minhas indicações. Era meu assistente de realização o filho do pintor, meu colega de liceu. O equipamento resumia-se a uma câmara de super-8, um formato hoje pré-histórico, e a um “spot” de iluminação. Tripé era coisa que não havia. Fotómetro muito menos.

Ao fim de uns meses, que meteram uma inauguração numa galeria de arte e tudo, comecei a montagem da “grande obra”. Tinha seis bobinas sem som e mais uma em som direto. Pedi uma pequena moviola emprestada e segui, com paciência e na solidão do meu quarto, a planificação que traçara. Cronometrando tempos, cortando e colando a fita. Entreguei-a mais tarde no único laboratório de som que, em Lisboa, fazia pistagens em super-8. Ou seja, que colava, na estreita margem da película, uma fita magnética para som. Passei a ter duas bobinas: uma grande com uma pré-montagem, de cerca de 10 minutos, outra mais pequena, com som direto, com 3 minutos.

E depois?

Depois nada. Comecei o curso de História da Arte e desisti de fazer Cinema. Não consegui arranjar um estúdio onde pudesse gravar o som que faltava. Perderam-se duas gravações que tinham sido feitas, na RDP, com poemas. O pintor morreu pouco depois. As bobinas e as notas de montagem recolheram a um dossiê, lá em casa. Viajaram, sucessivamente, de Massamá para a Salúquia, dali para a Rua de Arouche, depois para a de S. Pedro, até estacionarem em Mértola.

No passado mês de novembro, 32 anos depois do início do caminho, resolvi terminar o filme. Fui recuperar um velho sobrescrito, onde se conservavam umas folhas, às quais dera o pomposo nome de "argumento". Telefonei a um amigo cineasta e pedi-lhe ajuda. Fui a uma empresa que transcreve formatos e os passa para digital. Recuperei velhos temas musicais. Passei horas a pesquisar os sons que na altura idealizei. Pedi ajuda a um profissional da Rádio Planície para fazer “voz-off”. Constatei, com enorme surpresa, que a bobina em som direto resistira ao passar do tempo. O filme está agora em fase final de montagem. Sonorizado e com genéricos feitos como deve ser. Respeitei rigorosamente a planificação inicial.

O filme é bom? Nem por isso. Aos 17 anos temos a mais desmedida segurança da idade. Dá sempre mau resultado… O filme vale como objeto de juventude, para o qual se olha com uma certa ternura e nada mais.

Fui, durante a vida,  fazendo coisas assim. Retomando projetos, parecendo que os esquecia, mas afinal não. Como no caso da escavação de Moura, interrompida em 1990 e reiniciada 13 anos mais tarde. Começa-se e acaba-se. Mais depressa ou mais devagar. Nunca nada ficou, nem fica, para trás. Temporariamente, sim. Em definitivo, não.

Crónica publicada em "A Planície" (1.3.2013)

quarta-feira, 6 de março de 2013

HUGO CHÁVEZ (1954-2013)


Truculento. Solidário. Imprevisível. Empenhado. Carismático. Contraditório. Orgulhoso. Popular. Revolucionário. Imprescindível. São palavras que assentam bem a Hugo Chávez, ontem desaparecido. Já uma vez comentei os comentários sobre o líder venezuelano. O que muitos não percebem (os comentadores da Antena Um, hoje de manhã, por exemplo) são os fundamentos da pobreza e o que sentem os mais desfavorecidos. Chávez sabia o que isso era, entendia o seu Povo e preocupava-se com o destino do seu País. Era um patriota e um homem do Povo. Daí o apoio e a idolatria. E o contraste tão flagrante com figuras como Carlos Andrés Pérez ou Pérez Jiménez.

Tenho pela figura de Chávez a maior admiração. Mesmo com todas as suas ilógicas e contradições. A verdade é que homens como ele, que falam forte em nome dos mais fracos, são necessários.

Vivam a memória e o legado de Chávez!

SOB O SIGNO DE HOPPER - III: WINSLOW HOMER


A luz translúcida de Winslow Homer (1836-1910) refletiu-se nas telas de Hopper. Não há, nem numas nem noutras, sombras de tragédia. Apenas a placidez de um mar calmo. E a vibração da luz. A mesma calma se desprende das palavras de Fiama Hasse Pais Brandão.


DO MAR

Aqueles de um país costeiro, há séculos,

contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos. Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.

DRESS CODE II: o casamento


Eu era "convidado do noivo". O que quer dizer que ninguém da família da noiva me conhecia. Nada de estranho num casamento. As coisas só se complicaram quando, a dada altura, me ofereci para ir buscar um jarro de cerveja destinado à mesa de amigos onde me encontrava. Ao passar por outra mesa alguém me pediu entre o se-faz-favor e a voz de comando "é mais uma garrafa de tinto". Estranhei o pedido, mas não desarmei. Só depois percebi que o lacinho que usava fora confundido com o dos empregados. Ao chegar à copa, expliquei o que se passava. Os empregados riram e serviram-me. Ao voltar para trás, com o que me tinham solicitado, fui de novo interpelado, por outra mesa, "e é mais um sumo, fáxavor". Não dei parte de fraco. Regressei à copa para dar seguimento à demanda. O maître, manifestamente bem humorado, aconselhou-me "o colega é melhor tirar essa coisa do pescoço, ou deixa de ter sossego". Tirei o papillon. Em compensação, os colegas deram-me tratamento vip durante o resto do evento.

terça-feira, 5 de março de 2013

ESPÍRITO SANTO (MOURA): A IGREJA QUE VAI SER GALERIA DE ARTE

Uma obra fundamental que avança. A igreja do Convento do Espírito Santo vai ser galeria de exposições. Isso já foi várias dito e escrito. Uma coisa é dizer. Outra, bem diferente, é fazer.

A reabilitação está em curso e segue em bom ritmo. Um projeto de grande sensibilidade dos arqs. Victor Mestre e Sofia Aleixo. Durante uma visita à obra, esta tarde, pude voltar constatar isso mesmo.

Para o final do ano a intervenção estará concluída. O financiamento comunitário atinge os 85%.




segunda-feira, 4 de março de 2013

NA HORA DO ADEUS AO ENG. ARMANDO NAPOCO

O telefone tocou já tarde, ontem à noite. Do outro lado, a voz do Fernando Arlete comunicava-me, em tom grave, o falecimento do eng. Armando Napoco, antigo Presidente da Câmara de Bissau.

Conheci Armando Napoco em finais de janeiro de 2010, em Bissau. Voltei a encontrá-lo, meses mais tarde, em Moura. Político discreto e de maneiras suaves, o eng. Napoco transmitia o que queria em voz baixa e de forma eficaz. Falámos bastantes vezes nesses dias. Sobre o passado dos sítios. Mas, sobretudo, sobre o seu futuro. Durante o nosso último encontro, há pouco mais de um ano, conseguiu emocionar-me, ao apresentar o meu livrinho sobre Moura e Bissau, dizendo: "o nosso amigo Santiago tornou-se, com este seu trabalho, um cidadão guineense". Recordar que nos recebeu com toda a deferência é pouco para traduzir o cuidado e simpatia com que rodeou aqueles dias.

Pouco antes de nos despedirmos disse-me que se iria ausentar durante uns dias, para exames de rotina, em Dakar. Afinal, foi algo mais sério que uma simples rotina. O seu estado de saúde debilitou-se rapidamente. Armando Napoco faleceu no passado sábado, em Cuba.

Espero poder um dia voltar a Bissau. Espero poder render-lhe homenagem na terra que tanto amava. E na qual tanto acreditava.

Da esquerda para a direita (no edifício-sede do PAIGC, em fevereiro de 2012): Fernando Arlete (ex-Vicepresidente da Câmara de Bissau), Carlos Lopes Pereira (historiador e antigo diretor do Nô Pintcha), Armando Napoco (na altura Presidente da Câmara de Bissau) e o autor do blogue

QUE SERA SERA




















Não é nenhum jogo de palavras com os dias que se aproximam. Nem um alusão à ida, no final do mês, a Marrocos, e uma vez que parte deste filme tem lugar nesse País.

Nada disso. Acontece apenas que gosto muito de O homem que sabia demais, obra rodada por Alfred Hitchcock em 1956. Esta cena é bem característica do estilo do realizador. A mulher que canta suspeita que o seu filho está no edifício. Daí erguer a voz, cantando acima do tom. O som ecoa pelos salões e pelas escadas, até chegar ao destinatário. São coisas das mães. O mestre sabia disso. E sabia da manipulação dos sentimentos como ninguém. Por isso os seus filmes são tão bons.

O homem que sabia demais, e a bela voz de Doris Day, são a escolha cinéfila da semana.

domingo, 3 de março de 2013

O QUE MATA OS TOUROS...

... são os matadores, é certo.

Mas o que mata os touros, enquanto Espetáculo e Cultura, são cenas como as desta tarde.

Pior que o frio oliventino foi o facto de se terem vendido mais bilhetes que lugares, dando origem a broncas inenarráveis.

Pior que tudo foram os touros Zalduendo. Que nunca poderiam dar uma grande corrida. Apesar da aplicação de Talavante.

Melhores tardes virão.

Diz o site mundotoro.com:
Plaza de toros de Olivenza. Última de feria. Lleno. Cinco toros de Zalduendo y un sobrero (4º) de Garcigrande. Nobles, pero de poca transmisión en líneas generales. Morante de la Puebla, silencio y ovación; José María Manzanares, silencio y ovación y Alejandro Talavante, ovación y oreja. Juan José Trujillo y Luis Blázquez saludaron tras banderillear al quinto.

sábado, 2 de março de 2013

CDU MOURA 2013: NO YOUTUBE, NO FACEBOOK, NO MEO E NA BLOGOSFERA

 


Caros Munícipes: 

A decisão de me apresentar como cabeça de lista da CDU à presidência da Câmara de Moura é o corolário lógico de um já longo percurso político neste concelho. Representa também uma acrescida responsabilidade e espero poder responder aos desafios colocados, e à confiança que o PCP e a CDU colocam nesta candidatura. 

As minhas raízes estão em três localidades do concelho (Amareleja, Póvoa e Moura). A ligação sentimental a um território é um dado decisivo para uma candidatura. A identificação dos problemas existentes e conhecimento do terreno não são menos importantes. 

Esta é uma candidatura de continuidade. Para dar seguimento ao trabalho da CDU no concelho, em particular com o que, desde 1998, tem vindo a ser concretizado. As nossas prioridades são este concelho e o seu desenvolvimento. Continuaremos a lutar pelo nosso futuro, todos os dias, ano após ano. 

Contamos convosco. 
Podem, seguramente, contar com a CDU e com esta candidatura.
Estamos juntos.

Depois do arranque ao vivo, a candidatura dá notícias no youtube e na blogosfera. Primeiro, com a apresentação do clip usado na sessão de dia 23 e que mostra algumas imagens de um percurso, entre o político, o académico e que inclui muitas das intervenções em que estive pessoalmente envolvido. Em segundo lugar, com o blogue da candidatura (onde se encontra o texto da carta acima transcrita), que já está disponível em:

http://cdumoura2013.blogspot.pt/

No MEO em:
Canal nº 966980

No facebook em:
http://www.facebook.com/#!/pages/CDU-Moura-2013/355581004556415?fref=ts

sexta-feira, 1 de março de 2013

REGRESSO A TÂNGER

Esta é a história de um homem perseguido pelo vento, esquecido pelo tempo e desprezado pela morte.

O vento vem de leste, na cidade onde o Atlântico e o Mediterrâneo se encontram, uma  cidade feita de colinas sucessivas, enigma doce e inatingível.

O tempo começa com o século ou quase. Forma um triângulo no espaço familiar desse homem que, cedo - tinha 12 ou 13 anos -, deixou Fez para ir trabalhar no Rif, em Nador e Melilla, para durante a guerra e emigrar nos anos 50, com a sua pequena família, para Tânger, cidade do estreito, ondem reinam o vento, a preguiça e a ingratidão.

Começa assim o livro Dia de silêncio, de Tahar Ben Jelloun. Tânger é um dos mais belos e inesquecíveis sítios do mundo. É, seguramente, uma daquelas cidades para onde poderia partir amanhã e não mais regressar. O excelente livro de Tahar Ben Jelloun foi lido, entre o Petit Zoco, os cafés do Boulevard Pasteur e o museu onde a exposição Marrocos-Portugal estava a ser montada. Foi em 1999. Não regressei a Tânger. Irei lá estar no próximo dia 21, no início de um rápido périplo magrebino. Um dia vai saber a pouco. Tentarei voltar depressa. À cidade do vento, da preguiça, da luz e do caos. Mas não da ingratidão.

Tânger, por Braunio (séc. XVI)