segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CAMILO LOURENÇO E OS HISTORIADORES


Foi hoje, pela manhã. Camilo Lourenço, que é economista, veio dizer que "se eu tiver licenciado pessoas em História ou pessoas para serem professores, qual é a utilidade para a Economia? Então se nós não precisamos deles... eu tenho de ter pessoas formadas nas áreas onde a Economia precisar deles" (v. aqui).

Num País que tem sido governado, com reconhecido sucesso que hoje constatamos, pelos mais reputados economistas, fica por entender até onde vai o retrógrado "pensamento" lourenciano. São só os historiadores os visados? Ou há mais gente de que a Economia não precisa? Que terá a Economia a dizer aos bailarinos? Aos pintores? Aos músicos? Aos filófosos, Deus meu, esses perigosos especuladores? Aos encenadores? Aos linguistas? A Economia precisará de linguistas?

Não se riam, por favor. O estilo Camilo Lourenço faz escola. Os custos serão pagos pelas próximas gerações. Os ideólogos de tal selvajaria já cá não estarão.

2 comentários:

trasgo disse...

Oh amigo o Camilo é um Areias

http://trasgalhadas.blogspot.pt/2013/02/o-areias.html

Curioso disse...

Caro SM, há uns tempos atrás li uma crónica do Ricardo Araújo Pereira, ilustre português que tem a minha admiração pelas mais diversas razões (embora a publicidade à MEO lhe tire alguns pontos) e que eu gostaria de partilhar neste post:

«Após alguma reflexão sobre o assunto, ocorreu-me que talvez fosse importante que alguém apresentasse Vítor Gaspar a um ser humano. Podia ser um encontro discreto, a dois, só com um terceiro elemento que começasse por fazer as honras: "Vítor, é o ser humano. Ser humano, é o Vítor." E depois ficavam a sós, a conviver um bocadinho.
Perspicaz como é, o ministro haveria de reparar que, entre o ser humano e um algarismo, há duas ou três diferenças. O ser humano comparece com pouca frequência nas folhas de excel, ao contrário do algarismo. E o algarismo não passa fome nem morre, ao contrário do ser humano. É raro encontrarmos uma lápide, no cemitério, com a inscrição: "Aqui jaz o algarismo 7. Faleceu na sequência de um engano numa multiplicação. Paz à sua alma." Mal o ministro tivesse percebido bem a diferença entre o ser humano e os números, poderia voltar às suas folhas de cálculo. Admito que se trata de uma experiência inédita, mas gostaria muito de a ver posta em prática.
Houve um tempo em que quem não soubesse de economia estava excluído da discussão política. Felizmente, esse tempo acabou. Os que percebem de economia são os primeiros a errar todos os cálculos, falhar todas as previsões, agravar os problemas que pretendiam resolver. As propostas de um leigo talvez sejam absurdas, irrealistas e inexequíveis. Não faz mal: as do ministro também são. Estamos todos em pé de igualdade. A realidade não aprecia economistas. Se um chimpanzé fosse ministro das Finanças, talvez a dívida aumentasse, o desemprego subisse e a recessão se agravasse. Ou seja, ninguém notava.
Como toda a gente, também tenho uma sugestão para reduzir a despesa. Proponho que Portugal venda uma auto-estrada para o Porto. Temos três, e não precisamos de todas. Há-de haver um país que esteja interessado numa auto-estrada para o Porto. Não há nenhuma auto-estrada para o Porto no Canadá, por exemplo. Nem na Noruega. (Eu confirmei estes dados.) São países ricos, aos quais uma auto-estrada para o Porto pode dar jeito. Fica a proposta. Não é a mais absurda que já vi.»

Ricardo Araújo Pereira, Visão, 29 Novembro 2012