terça-feira, 10 de julho de 2012

O VOO DA ARQUEOLOGIA

Estruturas modernas, uma rua do período almóada, uma ara romana na esquina de um edifício, fragmentos da história de uma Moura ignorada. Dentro de poucos meses esta parte do nosso passado comum será vista e explicada a partir do varandim do novo posto de turismo.

A arqueologia vista de cima é assim, um emaranhado de estruturas e de pavimentos, um patchwork do que ficou de vidas que habitaram nestes sítios. Fazer arqueologia tem um pouco de voyeurismo, desse espreitar pelo buraco da fechadura da História. Foi o que fiz ontem, pelas 17.30 neste voo breve.



Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!



Alberto Caeiro in "O guardador de rebanhos" (poema XLIII - 7/5/1914)

1 comentário:

Lucrecia disse...

Muito interessante. Arqueologia é fascinante. Mesmo vista assim do alto desperta a curiosidade por saber quem e como viveu neste ambiente. E ainda mais fascinante é reconstruir essa História.
Ainda mais interessante é a sua ideia ao colocar Fernando Pessoa.
(Interessante e fascinante são palavras que dizem muito pouco sobre o que sinto por Arqueologia e Fernando Pessoa)