quinta-feira, 12 de julho de 2012

A ESCRITA E O CORPO


Pede o desejo, Dama, que vos veja


Pede o desejo, Dama, que vos veja;
Não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
Que, quem o tem, não sabe o que deseja.

Não há cousa, a qual natural seja,
Que não queira perpétuo o seu estado;
Não quer logo o desejo o desejado,
Por que não falte nunca onde sobeja.

Mas este puro afeito em mim se dana;
Que, como a grave pedra tem por arte
O centro desejar da Natureza,

Assi o pensamento, pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre, humana,
Foi, Senhora, pedir esta baixeza.



A reputação do Poeta está bem de acordo com o espírito do seu soneto. Lembrei-me depois das fotografias do maliano Aloiune Ba e da sua série Corps écriture, de 2008. O Poeta gostaria deste corpo habitável, tenho disso a certeza.

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