sábado, 30 de junho de 2012

DE ELVAS A TOMBUCTU


Mais para sul, já não há muros brancos do catálogo típico das ruas do mar do meio. São cidades onde não chegaram os ecos do mundo antigo e não há arqueologia para ver, nem monumentos de um passado remoto para visitar. Entre as águas do Níger e a terra de tom pardacento ficam os ecos do Mediterrâneo, que um dia chegaram até Gao e até Tombuctu. Por lá ficaram presos aos muros das mesquitas e à placidez dos que não cuidam do passado porque também lhes foge o futuro.
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As maravilhas de Tombuctu pereceram por entre o peso da decadência, e as cúpulas douradas de que falavam os viajantes parecem um delírio saído das raízes do sonho. Os relatos dos aventureiros são a nossa máquina do tempo.
(excerto do livrinho intitulado Mar do meio, editado pela Câmara de Mértola, em 2009)

Hoje, as excecionais fortificações de Elvas passaram a integrar a lista de Património da Humanidade. Uma decisão que se saúda. Hoje, a cidade de Tombuctu é ameaçada pela barbárie da al-Qaeda.  O raciocínio dos radicais é linear e básico: se é isto que o Ocidente gosta e classifica é isto que nós rejeitamos. Já o tinham feito com os budas de Bamiyan. A tragédia repete-se agora com os mausoléus da cidade do ouro.


Desenho de René Caillié, o primeiro europeu a regressar vivo de Tombuctu, em 1828

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