sábado, 8 de janeiro de 2011

BAB EL-OUED

Seis deslocações a uma cidade não são suficientes para a conhecermos tão bem quanto isso. No entanto, ao ver as imagens na televisão tive a quase certeza que um dos sítios dos motins que assolam Argel era o bairro de Bab el-Oued. Não me enganei. Reconheci mais tarde a popular Place des Trois Horloges, nome antigo que ainda se mantém.
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Bab el-Oued era, nos tempos coloniais, o bairro dos pequenos funcionários europeus. A zona dos remediados. Situado na zona norte da capital argelina é um bairro de ar simpático, com prédios brancos e janelas azuis. Depois da independência, as características populares de Bab el-Oued mantiveram-se. Isso explica que sejam os seus habitantes os primeiros a sofrerem as consequências das crises económicas. Foi assim em 1988, quando motins assolaram esta zona de Argel. É assim, ciclicamente, nos momentos de maiores dificuldades. No meio está uma juventude desesperada e sem perspectivas. Desemprego e um futuro sem futuro. Acima, está a oligarquia do FLN e uma corrupção que esgota os recursos de Hassi Messaoud e de Hassi R'Mel. Em todas as casas há antenas parabólicas que permitem ver um outro mundo, de suposta abundância. À espreita estão os imãs radicais. É uma equação desgraçadamente fácil de entender.
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É provável que, antes do verão, volte a Argel. Pergunto-me o que irei encontrar e que mudanças foram feitas.
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A tradução de Bab el-Oued dá algo como A porta do rio. Parte do bairro foi edificada sobre uma linha de água. As inundações mortíferas sucedem-se.

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