sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

QUANTOS ANOS TINHAS NO 25 DE ABRIL?

Comentário de ontem a propósito das Presidenciais:
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"Invocar a PIDE, coisa que os nascidos depois de 1970 não fazem a mais pequena ideia do que foi"
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"1, 2, 3 diga lá outra vez...?"
P.S.: E quem era garoto na altura fará uma idéia muito melhor, por essa lógica...?
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Resposta (apesar do anonimato e porque a pergunta merece resposta à altura):
Sim, fará. Como no caso do autor do blogue, nascido em 1963 e que tinha apenas 10 anos no dia 25 de Abril de 1974.
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Três exemplos concretos de coisas que me impressionavam e que não esqueci, apesar de aos 10 anos não ter formação política, como é evidente:
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1) Não se podia falar da PIDE. Por razões de ordem familiar perguntei uma vez, teria uns 7 ou 8 anos, o que era a PIDE e tive como resposta "não voltes a dizer essa palavra; nunca mais". O tom desencorajou-me de fazer nova pergunta.
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2) Ouviam-se emissões de rádio do estrangeiro às escondidas. O meu tio José uma vez chamou-me, ante a desaprovação da tia Elisa, para ouvir a BBC em onda curta. Habituado aos relatos da bola pareceu-me estranho, e claro que não percebi toda a dimensão do problema, que um adulto tivesse de ouvir rádio às escondidas. Obrigou-me a jurar que não contaria a ninguém. Assim fiz.
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3) Lembro-me dos funerais dos soldados, no cemitério de Moura. Foi, de todos, o aspecto que mais me marcou. Em particular porque conhecia pessoalmente alguns daqueles jovens (eram alunos da Escola Industrial, onde a minha mãe era funcionária). Recordo, muito em particular, um deles, que era familiar de uns vizinhos da Rua Nova da Estação, e que faleceu tragicamente na Guiné, em 1971 ou 1972.
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Fazia ideia, sim. Uma ideia que, sendo ténue, é muito mais clara que quem tinha 3 ou 4 anos em 25/4/74. E percebo que a um resistente corajoso como Manuel Alegre enfureça a ideia de um homem como Cavaco Silva, que nada fez para combater a ditadura, seja hoje Presidente. Mas as coisas são o que são.
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Fotografia: Alfredo Cunha
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Vale a pena ver isto: http://mediaserver.rr.pt/RR/Flashs/25abril_final/video/index.html

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O Avenida da Salúquia faz uma pausa até à próxima segunda-feira.

13 comentários:

san payo disse...

já há algum tempo que me parece que o autor deste blog tem uma raiva latente relativamente aos portugueses nascidos na década de 70, por mais brilhantes e talentosos que eles sejam.

1. não temos culpa de ter nascido nos 70's

2. sabemos muito bem o que foi a PIDE e mais alguma coisa - caro o amigo não saiba há traumas de guerra como há traumas de tortura, e os familiares apanham com isso.

3. esta tentativa de afirmação do desconhecimento do conhecimento do que foi a PIDE e suas consequências, por parte da geração de 70, parece-me um grande flop.

4. conhecemos a liberdade de expressão - consequência do fim da PIDE entre outros - e agora deixamos de a viver, já não existe....

Santiago Macias disse...

Raiva?
Contra quem nasceu nos anos 70?
Essa agora! Não me conhece minimamente.
V. nasceu nos anos 70? Ora ainda bem! Tem como companhia na década um escritor chamado Gonçalo M. Tavares, um nome maior da literatura portuguesa e univesal. Mas há muito mais, nas artes, na ciência, na economia e na política. Felizmente.
Você sabe o que foi a PIDE. É uma excepção. Disso pode ter a certeza. E não me refiro só ao conhecimento do que foi/é escrito, mas da memória viva das coisas. As minhas recordações são ténues, as de quem veio mais tarde ainda mais vagas.

Ao anónime que se diverte com insultos: não gaste o seu tempo dessa forma...

AF Sturt Silva disse...

E ai camarada como vai?

Um feliz natal e um 2011 de muitas lutas e vitórias!

Sturt Silva

Anónimo disse...

1) Não se podia falar da PIDE. "Por razões de ordem familiar" perguntei uma vez, teria uns 7 ou 8 anos, o que era a PIDE e tive como resposta "não voltes a dizer essa palavra; nunca mais". O tom desencorajou-me de fazer nova pergunta.
Desculpe a pergunta mas esta sua frase deixa no ar a questão: tinha algum familiar na PIDE?

Cidália Teixeira disse...

Boa noite
Hoje, dia de Natal estávamos em família a falar das dificuldades vividas no antes Abril de 74, por partes das classes menos favorecidas e da guerra do ultramar e das mensagens de Natal dos soldados em missão nas colónias e comenta um dos familiares presentes: "muitos dos que apareciam na televisão a desejar um bom Natal e a dizer que se encontravam bem de saúde, já se encontravam encaixotados". E, refere o seu caso em que ele e os seus camaradas gravaram a sua dedicatória em Setembro, poucos dias depois houve uma emboscada, mas a gravação estava feita, os corpos voltaram quando a companhia voltou, no entanto as famílias ouviram-nos a dizer no Natal que estavam bem.
Este post seu, nem de propósito à nossa conversa de hoje. Porque de política eu só ouvi falar aos 16 anos (Abril de 74), só o meu pai sabia o que isso era, porque ele ouvia a BBC à noite no quarto e era homem e era adulto e sabia tudo dessas coisas.
Na tarde de 25 de Abril de 1974 e nos outros dias todas que se seguiram, não largou mais a telefonia, levava-a para todo o lado, ansioso por saber o desenvolver da situação política do país.
Feliz Natal

Curioso disse...

Bom dia, caro Santiago.

Bom Natal para toda a familia!

Sou dos anos 70's e disso me orgulho como se fosse noutra década qualquer! Mais conto: nasci no ano do 25 de Abril, uns mesitos antes!

Não vivi a ditadura, mas penso que aprendi o suficiente do que foi a ditadura e a PIDE... e não só a PIDE. Lembro-me das histórias contadas pelo meu avô e pelo meu pai. Lembro-me das histórias contadas pela minha mãe que ouviu do pai dela (meu avô, bem entendido) sobre a Guerra Civil de Espanha, assim como a história de um jovem que foi de Santo Aleixo para Lisboa com apenas 18 anos para a tropa e daí para Angola em 1961 para combater pela pátria. Esse era o meu Pai!

A importância que tinham as eleições e as filas que se formavam nas mesas de votos após o 25 de Abril (na escola da Porta Nova era a mesa dos meus pais) ainda as vivi e ainda me lembro bastante bem.

Não, não vivi a ditadura. Mas isso não implica que não conheça o que se passou e a importância de quem lutou contra a ditadura. Curiosamente não revejo o Manual Alegre nem o Mário Soares nesses lutadores!!!!

Anónimo disse...

Caro Curioso deixe ver se entendi o seu Pai ofereceu-se como voluntário para a tropa aos 18 anos para ir "defendder a Pátria" o Curioso diz que não viveu na Ditadura mas isso não implica que não conheça o que se passou e a importância de quem lutou contra a ditadura. Não me diga que o seu conceito de lutar contra a Ditadura é achar que quem ir para as Colonias ia defender a Pátria? Estou pasmado.

Curioso disse...

Não, amigo Anónimo das 22:26! Totalmente equivocado:

O meu pai não foi voluntário para a tropa nem tampouco para o ultramar: foi obrigado!

Ele não lutou contra a ditadura como lutaram muitos. Fez aquilo que os jovens eram obrigados a fazer na altura (e aqueles que não tinham cunhas, claro): lutar nas colónias portuguesas.

Feliz Ano de 2011, caro Anónimo!

Santiago Macias disse...

"Desculpe a pergunta mas esta sua frase deixa no ar a questão: tinha algum familiar na PIDE?" (anónimo 22.56 - 25/12)

Não tem pedir desculpa, ora essa. Tive um tio-avô que foi agente da PIDE. Morreu em Junho de 1962, durante uma operação contra uma base do MLG, na zona norte da Guiné.

Anónimo disse...

"assim como a história de um jovem que foi de Santo Aleixo para Lisboa com apenas 18 anos para a tropa e daí para Angola em 1961 para combater pela pátria. Esse era o meu Pai!" Quem escreveu esta frase foi o amigo Curioso. Por favor torne a ler o que escreveu. se alguem está equivocado será o amigo. Feliz Ano caro Curioso

Anónimo disse...

Caro Santiago desculpe dizer-lhe que em casa de gente que lutava contra a Ditadura sabiam o que era a PIDE desde o mais novo ao mais velho.

Anónimo disse...

Santiago!
Vendo e analisando estes comentários, comento:
- já meteste outra vez o pé na argola!...
Uma amiga "anónima".

Santiago Macias disse...

Amiga "anónima"?
Hummm, não me parece... Não tenho amigas anónimas. E as minhas amigas, quando meto o pé na argola (não foi este o caso, mas as opiniões são livres, claro) telefonam-me.