sábado, 24 de abril de 2010

ONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL?

– As tropas passaram-se para os comunistas diz você isto é alguma brincadeira de crianças isto é algum filme que bodega de tropas me arranjou general?
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O senhor doutor a ligar para o Ministério do Exército e nada, para o Ministério da Defesa e nada, a esquecer o orgulho e a ligar para o major e nada, os ministérios vazios, a secreta vazia, o telefone dos quartéis da Ajuda e do Carmo interrompidos, canções sem moral no rádio, o locutor a garantir que tomaram o aeroporto e a televisão e cercaram a polícia política, que Lisboa lhes pertencia e como se isso não fosse o suficiente para me aborrecer o canalha do jardineiro a estragar a relva e a trucidar os goivos, as criadas radiantes com o feriado a pilharem-me a despensa e o senhor doutor para o bocal num segredinho amargo
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– Responda-me com sinceridade embaixador Nogueira os comunistas controlam esta gaita ou não controlam é que se os comunistas controlam esta gaita temos de nos por ao fresco quanto antes.

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in ANTÓNIO LOBO ANTUNES, O manual dos inquisidores
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Não conheço texto que reflicta de modo tão claro, e de forma tão acutilante e com tanta elegância literária, o sentimento da classe dominante no Dia da Revolução. A festa-catarse durou exactamente 19 meses. Depois Portugal voltou aos eixos. Vai ficando certinho e europeu. As cabeças vão ficando assim, organizadas e certinhas. No outro dia um amigo comunista elogiava furiosamente a Suiça. Senti aquela declaração de amor como mais uma derrota da Revolução.

6 comentários:

Anónimo disse...

Quando os nossos amigos comunistas falam assim, há qualquer coisa que está mal...
Perante este texto apetece-me dizer que o sentimentos destes senhores seriam mesmo: "Acabou-se a festa, estão-nos a comer os bolos!"
Onde estava eu no 25 de Abril?
No 25 de Abril de 74, eu celebrava ao colo dos meus Pais o dia mais significativo da minha vida, porém só anos mais tarde tive a noção do valor desse dia. Foi o Dia determinante para que sempre tenha tido direito a todos os direitos, respeitando sempre que a minha liberdade termina onde começa a dos outros.

Dulcineia disse...

No dia 25 de Abril a professora (D. Jacinta) mandou-nos para casa porque havia uma revoluçao em Lisboa...

Como nao sabia o que era uma revoluçao, achei melhor ir brincar para a casa da minha amiga Maria da Conceiçao que vivia no Sete e Meio.
A Mra. da Conceiçao vivia com os avos porque os pais eram emigrantes em França.

Quando chegamos a avo dela estava lavando roupa no tanque no quintal. Surpreendida de nos ver perguntou :

"Atao o que estao fazendo aqui, atao nao ha escola ?"
Ao que a neta lhe respondeu :
"A professora mandou-nos para casa porque ha uma revoluçao em Lisboa e prenderam o Presidente da Républica."
Resposta da avo da minha amiga :
"Ahhhh, bardamerda ! Atao mas quem é que prendia o Presidente da Républica ????"

Eu no 25 de Abril estava em Moura e vivia com os meus avos porque os meus pais tinham emigrado para Lisboa.
Para mim esse dia ficara para sempre associado à Maria da Conceiçao e à avo dela.

PS So uma pergunta : O teu amigo conhece bem a Suiça ? É que eu cheguei hoje ao fim do dia da Suiça...e nan tou a ver !!!!

Fernando Pinto disse...

Então a Dulcineia è do nosso tempo, ou nascida em 1964 e foi nossa colega de escola primária.

Santiago Macias disse...

É isso tudo Fernando. Só que não fomos colegas na Primária em 74.
Tu até conheces bem a moça. Só não revelo a "identidade secreta" porque ela tem a mania que é a Catwoman ou coisa do género.

Fernando Pinto disse...

2+2=4.Já lá cheguei. Por ser de Moura e ter que concorrer extra-competição. Só pode ser...Ok eu não revelo até porque ela tem todo esse direito. Um bejo grande para a Dulcineia.
Deixas-me a pensar noutra coisa.Então um dia destes fiz um grande elogio ao meu amigo e ele resolve não publicar esse elogio.Ok e entendo. Ontem piquei-te um pouco com respeito e digo o que julgo estar certo e tu cortas outra vez? Tudo bem na mesma.
Um abraço.

Santiago Macias disse...

Caríssimo Fernando

Não cortei nenhum texto teu, isso podes ter a certeza. Nem sempre os comentários que são enviados chegam. É frequente as pessoas contradizerem o que escrevo. Para mim isso nunca foi problema.

Abraço do amigo Santiago