domingo, 28 de fevereiro de 2010

ANA HATHERLY

SEM AMOR
.

Viver sem amor
É como não ter para onde ir
Em nenhum lugar
Encontrar casa ou mundo.
.
É contemplar o não - acontecer
O lugar onde tudo já não é
Onde tudo se transforma
No recinto
De onde tudo se mudou.
.
Sem amor andamos errantes
De nós mesmos desconhecidos
.
Descobrimos que nunca se tem ninguém
Além de nós próprios
E nem isso se tem.

.

A corrida solitária da rapariguinha pelas ruas de Sifnos é uma imagem célebre da história da fotografia. Data de 1961 e é seu autor Henri Cartier-Bresson. Ana Hatherly é uma poetisa e ensaísta portuguesa (n. 1929), de marcado pendor experimentalista. A rapariguinha não corre à procura do amor. Mas um dia correrá. Não anda errante. Mas um dia poderá andar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Gosto de fotografias a preto e branco. Transmitem um misto de realidade, sonho, passado e infância.
Não vale a pena correr, se errantes andamos cá todos...
Antes que a autora decida cometer algum acto irreflectido (aos 81 anos de idade?) deixo-lhe este como resposta:


NÃO SE MATE

"Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá."

(Carlos Drummond de Andrade)

BB

Anónimo disse...

Sem Amor. Não se Mate. E porque não, Senza Tempo...

Perdo
tutte le occasioni
per amare.
Mi distraggo
con i miei pensieri.
Mi avvolgo
nei sentimenti.
Non odo
il profumo dell'amore.
Non ho l'olfatto.
Non colgo
mai
l'attimo giusto.
Sono senza tempo.
Eppure canto
canzoni stonate.
E la voce
non mi manca.

Giuseppe Maninno

Santiago Macias disse...

ENA !

Anónimo disse...

Amigo Santiago:
Depois de levar vários minutos a apreciar a foto, sabes que não sou para certas merxxx tipo lambe-botice, hipocrisia, etc., quero dizer-te que me apraz visitar com regularidade o teu blog, pois é muitas vezes, pelo menos para mim, uma fonte de aprendizagem e com uma vantagem, gratuita.
Independentemente de poder discordar contigo num ou noutro post, não é isso, na minha óptica, que tira valor à tua prestação.
Podes continuar, (que me dá jeito).

Um abraço
Watergate