segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ARGEL X - O ESTRANGEIRO

Aujourd'hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas. J'ai reçu un télégramme de l'asile: «Mère décédée. Enterrement demain. Sentiments distingués.» Cela ne veut rien dire. C'était peut-être hier. L'asile de vieillards est à Marengo, à quatre-vingts kilomètres d'Alger. Je prendrai l'autobus à deux heures et j'arriverai dans l'après-midi. Ainsi, je pourrai veiller et je rentrerai demain soir. J'ai demandé deux jours de congé à mon patron et il ne pouvait pas me les refuser avec une excuse pareille. Mais il n'avait pas l'air content. Je lui ai même dit : «Ce n'est pas de ma faute.» II n'a pas répondu. J'ai pensé alors que je n'aurais pas dû lui dire cela.

Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames". Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem. O asilo de velhos fica em Marengo, a oitenta quilômetros de Argel. Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite a velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu chefe e, com um pretexto destes, ele não me podia recusar. Mas não estava com um ar lá muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe "A culpa não é minha". Não respondeu. Pensei então que não devia ter dito estas palavras.
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Comprei o livro em 3 de Junho de 1979, dia do meu 16º aniversário. Não me recordo porquê. O livro de francês incluía passagens de autores como Albert Camus (1913-1960) e talvez tenha sido esse um dos pretextos da ida à Feira do Livro. Lembro-me do choque que me causaram as duas primeiras frases: Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Li o livro de um fôlego, nessa tarde de domingo. O percurso e a personagem de Mersault assombram-me até hoje.

Uma velha e muito querida amiga insiste, até hoje: "Isso não é normal. Não é livro que se leia no dia em que se fazem 16 anos". Estamos, até hoje, em desacordo.

Sobre a obra de Camus (a fotografia que se publica foi, certamente, feita em Tipasa):

http://webcamus.free.fr/

3 comentários:

Dulcineia disse...

Ha uns meses atras o Raphaël (na altura 13 anos) nao tinha nada para ler e perguntou-me enquanto rondava a biblioteca ca de casa : posso ler este livro ?
Achei que era, muito, cedo demais.

Anónimo disse...

Tenho pena de não me lembrar de todos os livros que li até aos 16 anos. Sei que eram bem mais dos que me apetece ler agora. Alguns que ficaram registados, por essa idade, não sei porquê (ou talvez saiba): O Triunfo dos Porcos (George Orwell); O Retrato de Dorian Gray(Oscar Wilde); Para Sempre (Vergilio Ferreira); O Nome da Rosa (Umberto Eco); A insustentável leveza do ser (Milan Kundera); África Minha (Karen Blixen); Muitos policiais, Mário Puzo, Gabriel Garcia Márquez... Mais tarde uma paixão por David Mourão Ferreira e Eugénio de Andrade.
Ainda aos 16 tudo o que me vinha à mão sobre os fenómenos O.V.N.I.
A minha grande desilusão literária: A tentativa frustrada de ler os Lusíadas aos 12 anos. Ainda hoje só consigo digerir a parte da Ilha dos Amores :)

Acho que não há uma idade certa para lermos determinados livros. Já não sei quem disse um dia que não somos nós que escolhemos os livros; os livros é que nos escolhem a nós. Quem entende isso sabe que, precisariamos de umas quantas vidas, para que pudéssemos ser encontrados por muitos deles. Em mim, há sempre essa vontade e a certeza dessa impotência - há livros não lidos que deixarão, certamente, muitos espaços por preencher.

B.B.

Santiago Macias disse...

Bonita, a última frase deste comentário.