sábado, 14 de novembro de 2009

TopCo

Ouvi o anúncio, ontem à noite, num dos telejornais. Vai nascer a terceira maior companhia aérea do mundo: a TopCo, resultado da fusão da Iberia e da British Airways. O nome não me parece muito bom, a lembrar uma empresa de compressores. Estou certo que os executivos estudaram a matéria até à exaustão. Como naquele cartoon de Sempé, em que é necessário escolher um nome para uma pomada para sapatos e finalmente se opta pela onomatopeia ZGROUTICH (zgrouitchez vos chaussures...).
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Nomes à parte, já se começaram a fazer contas: as duas companhias, em conjunto, somam mais de 400 aviões, muitas centenas de destinos e perto de 55.000 trabalhadores. Apareceu, numa conferência de imprensa, um serventuário do capitalismo (gosto destas expressões à MRPP) a dizer, com toda a fleuma, que a fusão implica "some job losses". Em linguagem fria, some job losses são despedimentos, hipotecas por vencer, os estudos dos filhos atirados para as calendas gregas, as pensões em risco. Some job losses é uma linguagem fria e sem vergonha...
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A fusão de gigantes desta dimensão não se faz, seguramente, à margem dos governos. A nova companhia irá ou não voar para Gibraltar? 
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7 comentários:

Alexandre disse...

1º) os voos de e para Espanha/Gibraltar já são permitidos desde há talvez ano e meio

2º) o que me parece que as "top managements" ainda não entenderam é que "some job losses" significa que quem fica desempregado passa a não ter dinheiro para andar de avião, tal como as "job losses" na área automóvel significa menos gente com emprego capaz de lhe garantir acesso ao crédito necessário para comprar um carro (e para andar de avião). ou seja, de "job loss" em "job loss", as empresas que despedem passam a deixar de contar com os clientes que as mantém a funcionar porque, lá está, são mais os desempregados que os empregados.. paradoxal - ou não.

Alexandre disse...

Por acaso, estava enganado no último comentário: não foi há ano e meio, mas sim há três.

http://news.cheapflights.co.uk/flights/2006/12/spain_resumes_f.html

Santiago Macias disse...

Caro Alexandre

Agradeço a observação. Na realidade, a "Andalus Lineas Aereas" tem cerca de meia dúzia de voos semanais a partir de Madrid. Mas não há presentemente voos da Iberia (já houve, mas a exploração da linha foi abandonada) nem da BA.

O que me pergunto é se os dois governos terão acordado estes voos "conjuntos"? Parto do princípio que sim, naturalmente.

SM

Curioso disse...

Mas este tipo de fusão irá acabar com as marcas Ibéria e British Airways? Penso que não, pelo menos o que foi publicado diz que não, que as marcas são para manter: http://www.turisver.com/article.php?id=45227

O que acontece é que foi acordado uma fusão das duas companhias para unir as capacidades e diminuir custos e ultrapassar esta crise que o sector da aviação. O problema será ultrapassar os grandes lobbies, nomeadamente os tripulantes que auferem vencimentos milionários e ainda conseguem reclamar por aumentos "mais justos".

Poderemos ver esta fusão como a criação de uma cooperativa, tal como temos as cooperativas agricolas que conseguem manter a rentabilidade e a sobrevivência dos vários agricultores que fazem parte da mesma.

Nem tudo o que vem do capitalismo é obrigatóriamente mau. Os despedimentos, caso venham a acontecer, poderão passar pela rentabilização da mão de obra. Resta-nos aguardar por mais episódios desta novela.

Cpts.

Curioso disse...

Já agora, qual é a importância de voos para o Rochedo de Madrid e/ou Londres?!

Mas o Rochedo é assim um ponto tão importante da Peninsula Ibérica que seja necessário haver voos da Ibéria e da BA?!

Uma pequena colónia britanica com menos de 30 mil habitantes, com um aeroporto que é cortado por uma estrada, não me parece que seja uma questão importante para esta fusão entre duas companhias aéreas!!!

Santiago Macias disse...

Caro AMC

A questão do Rochedo é, ao nível da aviação comercial, simbólica. Mas é um dossiê que continua a ter (algum) peso político.

A minha confiança no capitalismo é muito, muito limitada. Não se trata de defender os privilégios dos que já são bem pagos, mas pensar que, hoje em dia, estas grandes fusões de empresas com dezenas de milhares de funcionários não incluem palavras como sensibilidade e compaixão. Recordo o caso recente da France Telecom para se perceber até que ponto vai a desumanidade.

Curioso disse...

O caso da France Telecom acabou por ser noticiado pelos infelizes suicidios. Se não fosse esse motivo andariamos todos na maior das ignorâncias relativamente a uma politica capitalista pura a ser aplicada na France Telecom.

Mas o Rochedo, esse império colonial britânico não passa de uma unha encravada na nossa vizinha Espanha. Há coisas que não percebo, e esta situação é uma delas. Os britânicos deram Hong Kong mas ainda continuam com alguns pontos estratégicos espalhados pelo Mundo, tal e qual como os EUA têm feito há mais de 50 anos.

O facto das sensibilidades nestas fusões não serem as mais... humanas, poderá não ser correcto, mas o que fazer perante a crise instalada? Eu não sou gestor e faltam-me as ideias para melhorar e rentabilizar as empresas, mas parece-me que se uma empresa dá prejuizos enormes há que fazer algo. No caso da BA pode-se realçar o prejuizo recorde que alcançou no primeiro semestre de 2009. Não sou apologista na diminuição de funcionários para diminuir custos, mas há que fazer contas, conter despesas, etc, etc. Temos o exemplo da TAP que conseguiu reduzir os custos com várias medidas, desde reduzindo o número de voos e passando por uma renegociação nos contratos com empresas que fornecem serviços à TAP, uma maior rentabilização da mão-de-obra, etc. Mesmo assim, a classe que maiores vencimentos aufere e mais regalias tem na empresa deu-se ao luxo de fazer greve nas vésperas de eleições.

Sou a favor da defesa do poder de compra dos trabalhadores, das greves, mas há que haver um pouco de bom senso. Como se pode pedir aumentos a uma empresa que teve um prejuizo de 285 milhões de euros em 2008?

Mas, caro Santiago, volto a repetir, não sou gestor de empresas.

Cpts.