domingo, 1 de novembro de 2009

AMIGOS PARA SEMPRE - I

Quando éramos miúdos e alguém da nossa idade nos chamava a atenção perguntávamos, com toda a candura, “olá, queres ser meu amigo?”. E ficávamos muito tristes quando levávamos tampa… Ao longo da vida fui somando tampas, não de amizade mas de outras, em especial nos bailes em Safara e em Pias, dois terrenos difíceis para forasteiros. Em especial para forasteiros desajeitados.
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Mas a questão não é, agora, essa. O problema está nas redes de amizade virtual, naquelas que em que somos assediados com propostas de amizade, por tudo e por nada. A Júlia tinha-me avisado que a netlog e o hi5 e sei lá que mais eram úteis para tentar encontrar pessoas cujo rasto perdemos. Fiei-me na Júlia e na sua confiança nas tecnologias e deu asneira. Ao tentar encontrar um colega dos tempos de faculdade descobri que ele estava registado na netlog. Vai daí tive de me registar também. Estava eu todo convencido que era quase o único santiago macias do nosso rectângulo. É o eras… Só à quinta tentativa consegui arranjar um nome na net, quarenta e seis anos depois de ter sido baptizado na Igreja de S. João.
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Depois de entrar na minha página – acho que é assim que se chama – apareceu uma pergunta qualquer, ainda por cima a máquina trata-me por tu sem me conhecer de lado algum, sobre se queria adicionar não sei quem à minha lista. Distraído fiz ok, na dúvida tenho o costume de responder “sim”, e toda a minha lista de mails disparou em todas as direcções, com pedidos de amizade para pessoas que já são minhas amigas, para outras que são conhecidas e para outras ainda que mal conheço. Até aqui nada de dramático, para além de ter depois ficado com a ligeira sensação de estar a fazer figura de parvo.
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O pior foi começar, horas depois, a receber dezenas de notificações e confirmações do netlog e listagens de amigos dos meus amigos (com a indicação “Fulano de tal tem xis anos e mora em Portugal. Conhece-lo?”). Há ainda uma secção, ainda mais kafkiana, intitulada “membros da netlog que talvez conheças”. E se não conhecer? Deverei dizer que conheço? E se não disser, o que é que me pode acontecer? O mal está feito e vou passar os próximos dias apagando mails e ignorando ou rejeitando amizades de pessoas que não conheço.
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No meio desta cegada toda ainda não consegui chegar à fala com o meu amigo Leopoldo Amado. É historiador, cidadão da Guiné-Bissau, e, tanto quanto sei, vive em Portugal. Se alguém, com netlog, sinais de fumo ou telepatia, souber onde ele pára, que me avise. Obrigado!
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Este texto é publicado na edição de hoje de A Planície.
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Um beijo famoso de dois amigos célebres. Chamavam-se Leonid Brejnev, o da esquerda, e Erich Honecker, o da direita. Apesar dos olhinhos fechados e tudo, não é o que o que os mais novos poderão estar a pensar. Investiguem um pouco que logo percebem.

6 comentários:

Harley disse...

Hás-de ver se esse senhor que procuras é este?

http://www.hi5.com/friend/profile/displayProfile.do?userid=13417636

Santiago Macias disse...

É ele mesmo. Obrigado. Afinal não precisei da telepatia.

Harley disse...

Ora essa, não tens nada que "obrigadar". Afinal estas redes sociais quando bem utilizadas sempre servem para alguma coisa.

Dulcineia disse...

Acabo de falar com a Julia. Ela disse-me que te falou do Facebook. Ela nao conhece o Netblog nem o Hi5.
Depois é preciso ter muito cuidado; ela disse-me ainda que nunca te deves distrair e so deves aceitar amigos que têm fotografia e que tu podes reconhecer visualmente.

é que a distracçao pode ser a morte do artista...

Santiago Macias disse...

Muito espirituosa, Dulcineia. Embora esse seu comentário (a parte do falei com a Júlia) me traga à memória o sapateiro de Queluz.

Dulcineia disse...

O SAPATEIRO DE QUELUZ !!!!!!
Fabulosa memoria meu amigo...