sábado, 10 de outubro de 2009

OS HOMENS, OS LIVROS E AS COISAS

O programa chamava-se assim e passava ao final da tarde, num dia de semana, na RTP. Foi, talvez, em 1975 ou em 1976.
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Durante meia-hora, o então jovem poeta e ensaista Joaquim Manuel Magalhães (n. 1945) falava de livros e lia livros. Hoje é professor catedrático da Faculdade de Letras. Continua a pensar, a escrever e a traduzir. Gostava de o ouvir ler poesia. Devo-lhe a procura de autores que mencionava de passagem. Atrás desses outros vieram, como um novelo que se vai desenrolando ou enredando. O Joaquim Caetano dizia-me há dias que um dos livros de poemas de Joaquim Manuel Magalhães tinha um dos mais conseguidos títulos que já vira: Os dias, pequenos charcos. É uma edição de inícios dos anos 80. Aqui vos deixo um dos poemas, num post que vai, decerto, ter menos comentário que os referentes à campanha autárquica de Moura.
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Vês desaparecer o rouxinol?
Nos arbustos, tão altos vai o vento
tombá-los no próximo inverno.
Com ele fogem sentimentos,
esses espinhos jogados em poemas
quem és tu? o sangue
turvo de mais um adeus?
E voa e canta e perde-se
nos irónicos ramos donde vê
os gatos e as mãos chamando
para vir ouvi-lo. Melancólico
pássaro do crepúsculo, imagem
felina e augural junto das silvas,
no escuro donde nascem as canções.
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A imagem, também ela um pouco melancólica, é do filme Aurora (1927) F.W. Murnau (1888-1931). Que pode ser visto, em nove partes, no youtube, e milagre!, está disponível na FNAC por menos de 15 euros. O livro, aparentemente, está esgotado.

2 comentários:

Carlos Júlio disse...

Olá, boa noite

...mas eu vou comentar. Já não me lembrava desse pequeno livro que devorei na altura. Para além de ter um dos títulos mais bem conseguidos (Joaquim (Oliveira?) Caetano dixit), é um livro delicioso. Joaquim M. Magalhães era, então, meu professor. E, em Letras, para além da matéria das aulas, tinhamos cumplicidades políticas, situados, como estávamos, no lado libertário da vida. E havia também outros poetas que ainda aí estão para durar, como Joaquim Miguel Fernandes Jorge ou Helder Moura Pereira, que eram muito chegados ao JMM. E o Helder Moura Pereira era também meu professor. Também eu me lembrava do JMM a dizer poesia na televisão. Também eu conheci muitos poetas através dele. Mas, conhecendo-o, percebi que a poesia não são apenas palavras escritas numa folha A4. Poesia é, sobretudo, vida.E insubmissão. Mas há muito que não o leio. Por isso vou já buscar um livro do Joaquim M. Magalhães à estante. E vai ser mesmo esse: os dias, pequenos charcos, que, segundo me lembro, são pequenos textos, pequenos poemas, às vezes sobre assuntos triviais, mas duma imensa beleza. Recomendo-o a todos. (Mas quem sou eu para recomendar? Os livros são para descobrir. Ou como alguém que eu conheço costuma dizer: os livros é que nos descobrem). Abraços.

Santiago Macias disse...

Viva Carlos Júlio. Obrigado pelo comentário.
A conversa foi mesmo com o Joaquim Oliveira Caetano.
Não fazia ideia que o JMM tinha sido teu professor. Normalmente as nossas conversas não têm ido por aí.
Boas leituras e um bom dia 11 de Outubro.